Viva Madrid! Viva! Viva!
De Atocha através da calle Prado há mais de um milhão de pessoas em movimento. Circula outra tarjeta: às duas em ponto cinco minutos de silêncio. Passa a mensagem.
Todos se imobilizam, há um silêncio sepulcral. Não há câmaras de televisão. Milhares de velas estão acesas e o silêncio rompe-se com o grito, pleno do orgulho: Viva Madrid!
E todos respondem, viva, viva Madrid!
E logo de seguida "Aznar escuta, o povo está em luta!" enquanto os riachos humanos continuam para o Congresso. Na rádio escuta-se unicamente música e resumos do jogo do Real Madrid. As vozes estão enrouquecidas depois de tantas horas, os pés doloridos, mas não há medo, não há polícia excepto um helicóptero por cima das cabeças.
Espalha-se uma sensação de euforia, quando a multidão de apercebe que ainda são muitos. "Também estivemos na manifestação de ontem" proclamam alguns cartazes artesanais. Frente ao congresso há carros protegendo o recinto sagrado "onde uns quantos tomam decisões sem nos consultar".
Repetem-se os gritos de protesto: "Não à guerra, Não à guerra! A vossa guerra, Os nossos Mortos! Um poço de petróleo, por um poço de sangue! Embusteiros, TVE igual a nada! Urdaci nazi queremos a verdade".
Depois do congresso segue-se a Gran Via e daí para Hortaleza. As pessoas saem dos bares e dos pubs, das discotecas. Uns juntam-se aos manifestantes, alguns provocam e perguntam "porque é que há manifestação?" e entretanto a manifestação de Madrid continua na rua e avança imparável, sempre escoltada pelo helicóptero.
Chega-se de novo à sede do PP e as pessoas, apesar do cansaço, continuam a protestar.
Passam as quatro, as cinco da manhã e slogans voltam a mudar: "Hoje protestamos, amanhã não os queremos! À hora de votar tens de te lembrar, assassinos, mentirosos!".
Na praça Sol há centenas de vela acesas, ramos de flores e cartazes, cartas, gritos de papel onde se demonstra solidariedade e carinho.
Algumas pessoas instalam-se acendem mais velas, estão todos em silêncio.
Há cartazes em todos os cantos da praça mas os serviços de limpeza respeitam a dor de uma cidade inteira que chora os seus mortos. Há bandeiras de vários países e escritos em árabe "Não ao terrorismo", há mensagens de familiares dos falecidos: "PP responde, basta de horror, queremos a verdade, televisão manipulação, o povo chora, o governo mente. Lucia não te esqueceremos nunca, Papá, amo-te. Esta não é a nossa guerra". Numa esquina, quatro mendigos estão rodeados de velas, em silêncio.
O cansaço faz com que seja difícil sair dali. Porque se as pessoas expressavam raiva na calle Génova, aqui concentra-se a dor, o silêncio, com as velas acesas e as flores congeladas pelo frio.
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