domingo, abril 18, 2004

A fuga dos cérebros....

> “Governo português vai pagar aos investigadores nacionais e estrangeiros
> que se queiram radicar em Portugal. A medida, que entra em vigor já a
> partir de 1 de Julho, destina-se a todos os doutorados «com grau de
> excelência» e visa combater a actual «fuga de talentos» nas ciências.

> o Estado pagará as despesas de investigação a
> todos os doutorados, nacionais e estrangeiros, que tenham publicado 100
> artigos em revistas internacionais e supervisionado pelo menos dez
> doutoramentos concluídos.”

Isto é tão ridiculo que levanta suspeitas sobre 1) a honestidade dos membros do Governo responsáveis pela medida; ou 2) a sanidade mental dos mesmos. E porque faço eu afirmação tão grosseira?

Porque:

1) Só tem 100 artigos em revistas indexadas quem tem excelência, é certo, mas também quem está no final da sua carreira. Ora quem está no final da sua carreira lá fora não é quem, actualmente, consubstancia a fuga de cérebros citada. Por outro lado, quem está no final da carreira não está, regra geral, no auge da sua produtividade e salvo raras excepções a preocupação central não se centra nos próximos 100 artigos que raramente
escreverão. Por outro lado é muito improvável que alguem nestas condições esteja disposto a regressar a Portugal, abandonando familia, casa, amigos, condições de trabalho inigualáveis, etc.

2) A relevância da produção científica de um investigador não se mede por números fixos de publicações mas por uma conjugação de factores onde se inclui o impacte da revista onde publica, o impacte do trabalho medido pelo número de citações e a ordem de autoria em que aparece nos artigos.
Mas mais importante que estes factores deverá estar o reconhecimento que os valores de publicações devem ser calibrados por área científica pois há áreas onde a facilidade e prática de publicar é incomparavelmente superior a outras. É diferente, por exemplo, publicar 10 artigos científicos em Filosofia, ou 10 artigos em Genética de populações. Num caso, cada artigo representa, ou tende a representar, um processo lento de maturação
intelectual e noutro bastarão uns ensaios experimentais enquadrados por uma hipótese de trabalho alicercada num corpo teórico existente e pensado por outros.

Com esta medida o governo está a insultar a inteligência dos Portugueses e a fazer de conta que está a tomar medidas. Nem visto é fácil de acreditar.

Miguel Araújo

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