Ontem, tive a sorte de ver um filme documentário sobre o Alentejo e suas gentes, que falava de como eram as coisas antes do 25 de Abril. Os testemunhos dos entrevistados expressaram uma realidade terrível, onde os míudos andavam descalços até à adolescência, onde se trabalhava de sol a sol sem ganhar suficiente para comer, onde aqueles que se atreviam a roubar umas bolotas ou uma mão cheia de azeitonas para enganar a fome eram severamente castigados pela guarda, onde o analfabetismo crónico era a forma de Salazar manter o povo controlado, onde os poetas que falavam de fome e miséria eram acusados de fazer política subversiva, onde os poemas para ser publicados tinham que substutuir "trabalhador" por "passarinho", onde as férias, o 13º mês e as reformas eram inexistentes, o que levava os trabalhadores rurais a terem que se esfalfar até deixarem de poder com as pernas, e sobretudo, onde todos viviam com medo, muito medo. E tudo isso, felizmente, mudou com a revolução de Abril. E mesmo que muitas coisas não sejam perfeitas, as conquistas de Abril não podem ser catalogadas como "Evolução", numa tentativa de fazer de Abril uma continuação do passado. Não. Abril acabou radicalmente com uma ditadura terrível de mais de 40 anos, e permitiu que as pessoas deixassem de ter medo, tivessem calçado, educação, alimento e direitos sociais. E isso relativamente ao que se viveu antes foi uma enorme revolução.
Parabéns à Maya Rosa por este filme excelente: No Jardim do Mundo. A não perder!!!
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