Nas notícias de hoje: a Federação Portuguesa de Andebol decidiu punir com severas suspensões alguns jogadores da seleção júnior que, num estágio da seleção, "praxaram" um colega, causando-lhe diversas sequelas físicas.
Esta notícia contrasta vivamente com o tratamento dado a recentes denúncias de praxes violentas em (pelo menos) dois estabelecimentos do ensino superior. Em ambos os casos, as estudantes denunciantes acabaram por abandonar esses estabelecimentos, as direções dos estabelecimentos adoptaram atitudes desculpabilizantes ou inativas, e os estudantes praxadores permaneceram impunes e nos seus lugares.
Em que radica a diferença?
Num facto crucial: a direção da Federação Portuguesa de Andebol não é escolhida pelos jogadores da seleção (em linguagem de Abril dir-se-ia: "a democracia não chegou ao andebol"); as direções dos estabelecimentos de ensino superior são, em grande parte (1/3) escolhidas pelo "corpo" dos estudantes.
A diferença é esta: quando os estudantes de Coimbra fazem "greve" e impedem os docentes, investigadores e funcionários de aceder aos seus locais de trabalho, o reitor da universidade, que foi eleito, de forma muito crucial, pelo voto do "corpo" dos estudantes, adopta uma postura desculpabilizante e compassiva. A universidade escapa às leis do país, e o reitor não permite que nela entre a polícia. Os estudantes, sejam os que praxam sejam os que impedem o acesso de trabalhadores aos seus locais de trabalho, estão protegidos pelo facto de estarem num "corpo" no qual não se aplicam as leis do país, um "corpo" que escolhe os diretores aos quais se submete.
Pelo contrário, no desporto, são os dirigentes dos clubes quem escolhe os jogadores, e não o contrário. Como tal, os jogadores portam-se bem, ou então são postos na ordem pelos dirigentes.
Em linguagem de Abril, chama-se a isto a "democracia nas universidades", e considera-se que isto é uma "conquista de Abril". Mas não é democracia coisa nenhuma, é corporativismo. E não é uma conquista de Abril coisa nenhuma, é um prosseguimento e alargamento das pioras tradições corporativas do fascismo.
Urge acabar com o corporativismo. Cada classe social tem que estar sob o escrutínio dos seus superiores, os quais não podem ser escolhidos por essa classe social. Quem manda nas universidades não pode ser escolhido pelos estudantes, da mesma forma que quem manda na Federação Portuguesa de Andebol não pode ser escolhido pelos jogadores. Sob pena de as praxes continuarem impunes, e os mais desmandos que se acumulam. Os que mandam nas universidades, como os que mandam no desporto, têm que estar sob o escrutínio democrático das autoridades do país, do governo e dos tribunais, que imponham que as leis do país se apliquem também nas universidades e no desporto.
Democracia sim. Corporativismo, não!
Luís Lavoura
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