sexta-feira, abril 02, 2004

Arquitectura para a Humanidade

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AFH ou “Arquitectura para a Humanidade” é uma associação, de arquitectos e desenhadores, sem fins lucrativos. A ideia partiu de um jovem arquitecto inglês, Cameron Sinclair, a quem o The Times chamou Bob Geldof da arquitectura. Porque o princípio é o mesmo: juntar os pares por uma causa justa. E a causa justa de Cameron são os laboratórios e hospitais de campanha, as casas temporárias de refugiados, etc. Que Cameron acha que devem ter tanta qualidade e estética como outros edifícios. Vai daí, lançou em 2002 um concurso internacional de ideias para uma unidade móvel de tratamento de doentes com SIDA. Tendo sobretudo em vista mitigar o avanço da doença no grande continente africano, médicos locais asseguram que uma só destas unidades pode colmatar as necessidades de prevenção, teste e tratamento de 30.000 pessoas/mês. Estas unidades destinam-se a ser usadas por organismos oficiais de saúde ou organizações não governamentais, de preferência em rede. O concurso foi muito mais concorrido que o esperado (recebeu 25% mais propostas que o concurso para o local das Torres Gémeas!): 530 propostas oriundas de 51 países diferentes. Uma exposição reunindo todas as propostas corre agora mundo, enquanto a proposta vencedora se converte em realidade na África do Sul: trata-se de uma unidade auto-suficiente munida com uma antena parabólica, energia solar e um sistema de recolha e tratamento de água.

São coisas como esta que fazem a diferença, é isto que prova que um mundo melhor é possível. E é possível porque alguém um dia se mexeu: em 1999, com 25 anos, Cameron Sinclair gastou $700 do próprio bolso para lançar o “seu” primeiro concurso internacional - o projecto de uma casa de habitação para 5 anos, destinada aos refugiados do Kosovo. Este concurso recebeu 250 propostas e conseguiu angariar dinheiro para implementar no terreno a proposta vencedora...

Neste momento a AFH é uma rede com 4000 membros espalhados pelo mundo, que tanto olham a grandes públicos-alvo, como os refugiados do Afeganistão ou do Iraque, como a problemas à beira da porta, como os sem-abrigo de qualquer grande cidade ocidental. Estes membros reúnem-se regularmente em pequenos grupos locais: discutem problemas e soluções e divertem-se em festas onde angariam fundos para desenvolver os tais projectos locais – em cada festa, cada um faz uma doação equivalente à primeira bebida da noite… O mundo afinal até é simples, nós é que o complicamos.

mpf

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