sexta-feira, março 05, 2004

O tabaco é bom para a globalização

Uma interessante notícia no PÚBLICO de hoje

dá-nos conta de que as corridas de Fórmula 1 vão ser progressivamente "deslocalizadas" para a Ásia devido à recusa da Europa em continuar a aceitar a publicidade ao tabaco, que patrocina amplamente a Fórmula 1. Depois da Malásia, este ano será a vez de haver um Grande Prémio da China em Changhai, e um Grande Prémio do Bahrain no deserto, estando já na calha Grandes Prémios para a Turquia, Coreia e Índia. Segundo Bernie Ecclestone (BE), o patrão da Fórmula 1, "as pessoas ainda não se aperceberam do que isso terá de mau". "Isso" é "perdermos os patrocínios do tabaco na Fórmula 1", como a Europa exige. É que sem esses patrocínios "haverá uma ruptura"; a Ferrari, por exemplo, teria "de abdicar do túnel de vento ou de alguns dos seus circuitos de testes "e ficaria "ao mesmo nível de uma equipa como a BAR", o que evidentemente seria horrível. É que a China, segundo BE, apresenta-se como um grande mercado de patrocínios. Em particular, acrescento eu, as companhias tabaqueiras estão ansiosas por viciar um bilião de chineses na sua droga, uma vez que já viram que na Europa e nos EUA o seu futuro não se apresenta brilhante. Mas BE é mais radical ainda:
"Nos próximos dez anos a Europa irá tornar-se numa economia do Terceiro Mundo", afirma, uma vez que, sem publicidade ao tabaco, sem um mercado de patrocínios como deve ser, não há escapatória a esse triste destino. "Não há forma de a Europa poder vir a competir com a China, Coreia e Índia", como se vê pela favorável propensão desses povos para o fumo de tabaco.

Pergunto eu: Não será possível uma alter-globalização, sem o vício do tabaco nem corridas de Fórmula 1?

Luís Lavoura

Sem comentários: