Há uma escala de naturalidades a que somos sensíveis. Um gato por ser meio selvajem ainda tem um grãozinho de naturalidade; já um rebanho de ovelhas que se atravessa no meio de um caminho de terra, devorando todas as florinhas à sua passagem, tem ainda uns pózinhos de naturalidade; a pastagem, essa, ganha aos pontos as ovelhas que alimenta, sendo apenas um perpetuamento artificial de um ecossistema natural; uma floresta plantada, mesmo um eucaliptal, tem uma presença forte e natural (bem....mais ou menos); mas um pinhal ganha ainda mais pontos, por se harmonizar muito melhor com tudo o que está à volta, sejam as plantas da charneca sejam os gaios e os grilos; já um carvalhal velho, quase que rebenta a escala de naturalidade, com musgos, fetos, escaravelhos monstruosos, bichos a fazerem casa dos seus troncos já ocos, árvores meio apodrecidas a servir de pasto aos cogumelos, pássaros e passarões por todo o lado, delicados narcisos e jacintos a florescer por todo o lado... Enfim, um escândalo. As cidades, essas, raramente têm direito a entrar nesta escala.... Alguns jardins manhosos e umas árvores cinzentas a ladear as estradas são os preciosos óasis de naturalidade em Lisboa. A falta de estrelas à noite, é um verdadeiro atentado à naturalidade.
Viver sem estas coisas naturais afasta-nos irremediavelmente do ecossistema a que pertencemos e faz-nos perder o verdadeiro sentido das coisas. Se esse é o teu caso, se não reparas numa flor há mais de uma semana, não ouves o barulho de um rio há mais de 15 dias ou não vês uma estrela há mais de um mês, pisga-te da cidade e esfrega-te na primeira árvore que encontrares. Vais ver que não custa nada!
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