segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Lições de Mumbai I

Cândido Grzybowski, Sociólogo, diretor do Ibase.

30.janeiro/2004 - Brasil - O Fórum Social Mundial, que este ano se realizou em Mumbai, na Índia, adquiriu uma nova e importante faceta: mostrou ser de dimensões universais. O desafio de deixar Porto Alegre, onde tudo começou em 2001, foi enorme. Como mobilização da emergente e diversa cidadania planetária, o FSM continua crescendo. Foram em torno de 75 mil delegados e delegadas, sendo 20 mil de fora da Índia. Havia também cerca de 10 mil pessoas, da própria cidade de Mumbai, que diariamente se juntavam aos eventos e mobilizações. Ao todo, quase 120 mil participantes mobilizados(as) pela idéia de que, diante da globalização dominante e suas mazelas, "outro mundo é possível".

À primeira vista, uma cacofonia. A Índia em si mesma, com mais de 1 bilhão de seres humanos, é um mundo diverso, falando muitas línguas – mais de 40, sendo quase a metade oficial –, com suas castas, com a exclusão social de dalits (intocáveis ou sem casta) e quase 300 milhões vivendo na indigência. No outro extremo, cerca de 200 milhões integrados ao mercado globalizado. O impacto é atordoante, cultural e politicamente, ainda mais para olhos aguçados de ativistas de um emergente movimento de dimensões planetárias. Inevitavelmente, somos levados a nos perguntar se fazemos o bastante, se nos indignamos suficientemente diante da desumanidade a que muitas mulheres e homens, crianças, adultos e velhos são condenados e se estamos sendo verdadeiramente radicais nas propostas de mudança.

Mais de 20 mil dalits participaram, dando uma dimensão bem popular ao Fórum Social Mundial. Juntou-se aos indianos e indianas uma rica expressão dos povos da Ásia. Mas também europeus, européias e norte-americanos(as), africanos(as) e latino-americanos(as). A destacar o fato de mais de 480 brasileiras e brasileiros participantes, número maior do que aqueles(as) da Ásia no FSM de 2003, em Porto Alegre. O Nesco Grounds – construções de uma indústria siderúrgica falida, na periferia de Mumbai, adaptadas ao Fórum Social Mundial, com salas improvisadas à base de bambu e divisórias, teto e piso de pano rústico – tornou-se a expressão plena do que está de alguma forma de fora da globalização: gente em carne e osso, comungando de um mesmo ideal de liberdade e dignidade humanas acima do mercado.

Tirado da Adital

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