quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Demita-se, Villas-Boas

Foi com estupefacção e indignação que a Opus Gay tomou conhecimento das declarações do psicólogo clínico Villas-Boas, presidente da Comissão de Acompanhamento da Lei da Adopção portuguesa, sobre a homossexualidade hoje no Público, com chamada para a 1ª pagina .

Como é possível, num país em que a homossexualidade não é crime e não é doença, tal como foi reconhecido há muitos anos pela Organização Mundial de
Saúde, um cientista, ainda por cima com responsabilidades políticas, vir dizer que a homossexualidade não é um comportamento normal?!!

Como é possível um cientista afirmar que, em termos de orientação sexual, há orientações naturais, originárias, genéticas e outras que não o são?!!

A Organização Mundial de Saúde, e dezenas de associações profissionais de psicólogos e psiquiatras consideram, há muitos anos, que a homossexualidade
é tão natural, normal e original como qualquer outra orientação sexual; apenas não é tão frequente.

Como é possível afirmar, por outro lado, que "ser lésbica não é ser mulher"?!! Com que direito vem este senhor retirar a feminilidade às lésbicas?!!!

E, finalmente, todos os estudos sobre homoparentalidade afirmam que as crianças desses pais crescem bem, com todo o amor e carinho, são estatisticamente tão heterossexuais como os filhos de pessoas heterossexuais, e têm até a vantagem de construírem modelos de masculino e feminino e de
união familiar mais ricos e diversos do que as crianças que convivem só com famílias heterossexuais.

Assim sendo, só por radical preconceito e falta de amor se pode afirmar que é preferível as crianças estarem em instituições do que serem adoptadas
por homossexuais... Os critérios para a lei de adopção devem ser, além de científicos, políticos e não, como se vê, moralistas. Abra-se definitivamente a discussão junto da opinião pública, informem-se as pessoas, combata-se preconceitos e receios. Depois então legisle-se, com amor e sentido de cidadania. Não com ódio, medo e preconceito.

Perante semelhantes disparates científicos, agravados ainda pelo ataque que constituem aos direitos humanos e à dignidade dos homossexuais, Villas-Boas perde toda a credibilidade científica e política e deve ser imediatamente demitido do seu cargo. E pode aproveitar o tempo que lhe sobre para voltar à escola... Ou aos grupos religiosos fundamentalistas de que deve fazer parte e que são ainda os únicos a defenderem semelhantes preconceitos e indignidades.

António Serzedelo

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