segunda-feira, janeiro 26, 2004

Morte em Lisboa



Em terrenos camarários, o já célebre "museu da PIDE", foi hoje demolido pela manhã, cabendo ao Dr. Pedro Santana Lopes após tão trágico acontecimento ontem nos relvados, provocar a morte (será prematura?) à mais temida escola da nação.

Não só temida durante o estado novo, esta escola, continuava a aterrorizar até ontem quem ali passava todos os dias, devido ao perigo de derrocada do muro adjacente, que até à poucos minutos continuava de pé. Continuará?

A escola da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) está a ser demolida, enquanto escrevo. Alguns espectadores do acontecimento, que é sem dúvida histórico para a democracia portuguesa, interrogavam-se onde estariam as televisões.

Comentava-se também o destino futuro do espaço. Ali mesmo ao lado das Twin Towers, em pleno neo-cbd alfacinha. Irá este fantasma do estado novo, transformar-se num novo casino? A nova residência oficial?

Os transeuntes mangavam sorrindo, enquanto assistiam especados, à rápida destruição do edificio, que ia dando lugar ao verde dum relvado escondido, mesmo atrás.

O gigantesco dente da máquina ia comendo lentamente a fachada, depois de consumir praticamente todo o interior, provando mais uma vez a sólida construção, que nem a ARA conseguiu destruir à bomba antes da revolução dos cravos.

A meu ver, Sete-Rios, aliás praça General Humberto Delgado, estava mesmo a precisar de um verde contraste de esperança que equilibrasse a presença do Eixo Norte-Sul, e relembrasse às pessoas que nas situações mais difíceis houve quem tivesse a coragem de resistir e morrer pela liberdade frágil, que hoje consumimos sem pedagogia nem memória.

Talvez por isso, os mais tristes, com este acontecimento, sejam os taggers, que perdem com este acto "infame" um local de culto dos seus graffitis mais ousados.

(A mim intriga-me como conseguem eles escrever tão alto numa parede vertical, será esta a originalidade que falta à oposição em Portugal? Pelo menos, estes taggers fizeram da temida escola da PIDE um local de inspiração criativa). Os outros, parece-me, cunham moedas.

O antes e depois:









1 comentário:

Raul Nobre disse...

A DEMOLIÇÃO DESTE EDIFÍCIO DA P.I.D.E. FOI UM ATENTADO À DEMOCRACIA.
Quem admita um ATENTADO como este ou é ingénuo ou está de má fé ou é um vigarista ou tem um quoeficiente de inteligência muito baixo. (No meu tempo de estudante, quando queríamos chamar estúpido a alguém, dizíamos assim; "se a estupidez pagasse imposto, estavas todo carimbado").
Então quando estamos perante uma memória traumática a solução é querer apagá-la?!!! Ou a solução será ajudar a torná-la consciente, compreendendo-a, desmistificando-a (e desmitificando-a)?
Acabo por ter de concordar com um grafiti dos Anarcas, de há já alguns anos, e que dizia assim;"Para um país de merda, um presidente de merda"