quarta-feira, janeiro 14, 2004

A guerra não acabou

Por Renato Rovai


Povo na rua - um cabeleireiro faz o trabalho na calçada. Em Mumbai todo o tipo de prestação de serviço pode ser encontrado nas calçadas - (Foto: Juliana Di Thomazo - Revista Fórum)

Destroços em todas as partes, gente carcomida pela miséria, lixo e cheiro ruim. Animais comendo plásticos e pedaços de papel em meio a carros também carcomidos, mas pelo tempo. Um país que parece estar saindo de uma guerra.

Mas não é isso que se lê e ouve. As notícias que vêm da Índia tratam de uma economia que cresce a mais de 5% ao ano, de um país que está dando enorme salto em áreas de ponta como informática e exploração espacial. Fala-se da maior democracia do mundo, com seu 1 bilhão de habitantes e eleições a cada cinco anos. Diz-se até que em termos de paridade de poder aquisitivo é a quarta economia do mundo.

O primeiro ministro indiano Atal Bihari Vajpayee tem conduzido o país de forma adequada pelos caminhos do neoliberalismo. Está possibilitando que o capital internacional administre portos e estradas e está privatizando parte das empresas nacionais. Hoje a Índia é considerada uma das economias mais abertas do mundo. Suas potencialidades de mercado são destacadas. Sua classe média é comemorada -- algo como 300 milhões de pessoas, segundo as vozes de informação liberais e que em 2010 chegaria a 450 milhões.

No que diz respeito às contas, de acordo com a porcentagem do PIB, a dívida externa tem diminuído. Era 38,7 % em 1992 e em 2001 bateu em 22,3%. Entre os países em desenvolvimento, essa é uma das relações mais baixas entre dívida externa e PIB. Mas Índia é miséria em qualquer canto. É o país dos pedintes, de gente te abordando em todos os minutos com a mão direita fechada a caminho da boca, indicando fome. É o país das crianças que se arrastam nos trens, limpando a sujeira por debaixo dos bancos em troca de 1 rúpia (algo equivalente a 7 centavos). Ou das castas, que organizam por cima a imobilidade social.

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