quinta-feira, janeiro 08, 2004

DESEMPREGO EM PORTUGAL III

TAXA DE DESEMPREGO OFICIAL E TAXA DE DESEMPREGO REAL EM PORTUGAL

Não existem em Portugal dados que permitam calcular com rigor a taxa de desemprego real, ma o próprio INE publica dados que permitem corrigir a taxa oficial de desemprego.

Ate há pouco tempo o Instituto Nacional de Estatística publicava uma outra taxa, que chamava “Taxa de desemprego em sentido amplo”, mas que depois deixou de publicar, talvez por não ser de agrado do governo, já que revelava uma situação ainda mais grave do que aquela que é revelada pela própria taxa de desemprego oficial como provaremos.

O quadro I, construído com dados publicados pelo Instituto nacional de Estatística, mostra a diferença entre a taxa de desemprego oficial (aquela que é divulgada pelos órgãos de comunicação social e que a opinião publica conhece ) e a taxa de desemprego corrigida que se aproxima mais da taxa de desemprego real verificada no nosso País.

QUADRO I – Taxa de desemprego oficial e Taxa de desemprego corrigida (mais próxima do desemprego real ) em Portugal

DESIGNAÇÃO 4ºTr99 2º Tri02 3ºTri02 2ºTri03 3ºTri03
1- ACTIVOS–Mil 5043,4 5375,7 5405,7 5403 5410,4
2- Desempregados (Oficial)–Mil 207,4 243,0 276,1 336,1 338,3
3- TAXA DE DESEMPREGO OFICIAL (2/1) 4,1% 4,5% 5,1% 6,2% 6,3%
4- Inactivos Disponíveis–Mil 76,7 75,1 83,2 86,6 93
5- Inactivos Desencorajados–Mil 37,4 26,4 24,8 30,7 30,5
6- Subemprego visível – Mil 3,6 44,1 42,3 51,7 52,8
7-Desemprego Corrigido (2+4+5+6)-Mil 325,1 388,6 426,4 505,1 514,6
4-TAXA DE DESEMPREGO CORRIGIDA 6,4% 7,2% 7,9% 9,3% 9,5%

Fonte: Estatísticas de Emprego – INE – 4º Trimestre de 1999 e 3º Trimestre de 2003

Para se poder compreender os dados do quadro I interessa saber o que são “Inactivos Disponíveis”,“Inactivos Desencorajados” e “Subemprego Visível” que consta no quadro.

Assim, de acordo com o próprio Instituto Nacional de Estatística: (1) “Inactivos Disponíveis” são pessoas desempregadas, que desejam trabalhar e que estão disponíveis, mas que não fizeram diligências para arranjar emprego nas últimas 4 semanas anteriores ao inquérito; (2) “Inactivos Desencorajados” são aqueles que, estando disponíveis para trabalhar, não procuraram emprego há mais de 4 semanas anteriores ao inquérito com os seguintes motivos: não têm instrução suficiente, não sabem como procurar, não valer a pena procurar, não haver empregos disponíveis; (3) Finalmente, o “subemprego visível” inclui os empregados com duração habitual de trabalho inferior à duração normal do posto de trabalho (trabalham menos de 15 horas por semana) mas que declararam desejar trabalhar mais horas ( se o não declararam são já considerados empregados em part-time).

Como facilmente se conclui, os incluídos nestas três rubricas são efectivamente desempregados. E o que é que os dados do quadro I revelam? – Por exemplo, no 4º Trimestre de 1999 o número oficial de desempregados (aquele número que é divulgado pelo INE e pelos órgãos da comunicação social) era de 207.400 , enquanto o número corrigido (mais próximo do real ) já era de 325.100 , ou seja, mais 117.700; e no 3º Trimestre de 2003 , o número oficial de desempregados era de 338.400 e o número corrigido (mais próximo do real ) era já de 514.600, ou seja, mais 176.200. E isto tudo de acordo com dados constantes das Estatísticas de Emprego publicada pelo próprio INE.

Por outro lado, de acordo também com os dados do quadro I , no 4º Trimestre de 1999, a taxa desemprego oficial (aquela que é divulgada pelo INE e pelos órgãos de comunicação social ) era de 4,1% enquanto a taxa de desemprego corrigida (mais próxima do real ) era já de 6,4%; e, no 3º Trimestre de 2003, a taxa oficial de desemprego era de 6,3%, enquanto a taxa de desemprego corrigida (muito mais próxima do real) era de 9,5%; em resumo, a taxa de desemprego corrigida é superior em mais de 50% à taxa oficial de desemprego, ou seja, àquela que o INE e os órgãos de comunicação social divulgam e que é conhecida pela opinião pública. E recorde-se mais uma vez que se calculou a taxa de desemprego corrigida utilizando dados obtidos e constantes de publicações do próprio INE (Estatísticas de Emprego)..

Resumindo, o desemprego real em Portugal é certamente muito superior ao desemprego oficial, e a evolução verificada mesmo na taxa oficial de desemprego é já muito grave (entre o 4º Trimestre de 1999 e o 3º Trimestre de 2003, a taxa de desemprego oficial passou de 4,1% para 6,3%, ou seja, aumentou 53,6%).

Eugénio Rosa
Economista

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