COMPREENDER OS NÚMEROS DO DESEMPREGO EM PORTUGAL
A diferença entre o desemprego oficial e o desemprego real
No fim de cada trimestre, o Instituto Nacional de Estatística (INE) publica dados sobre o número oficial de desempregados no nosso País e sobre a taxa de desemprego oficial, informações estas que depois são amplamente divulgados pelos órgãos de comunicação social. E são esses dados que os portugueses conhecem.
Mas a maior dos portugueses não conhece a forma como esses dados são obtidos, por isso toma-os com expressão verdadeira do desemprego real existente no nosso País.
No entanto, apesar da taxa de desemprego oficial revelar já um agravamento muito rápido desta calamidade social, o que está a provocar grande sofrimentos em centenas de milhares de famílias portugueses, mesmo assim a taxa de desemprego oficial ainda está longe de traduzir a realidade neste campo como se irá provar. Para se poder ficar com uma ideia mais aproximada da verdadeira situação é necessário conhecer a forma como a taxa de desemprego oficial é calculada. E é isso o que se procurará explicar neste pequeno trabalho de investigação, apresentando no fim uma taxa de desemprego corrigida que está muito mais próxima do que a oficial da taxa de desemprego real. Como é nosso hábito apresentaremos os dados utilizados assim como indicaremos a sua fonte, e explicaremos a metodologia utilizada para que o próprio leitor, se for caso disso, possa corrigir as conclusões tiradas.
QUEM É CONSIDERADO OFICIALMENTE EMPREGADO NO NOSSO PAÍS
De acordo com as Notas Metodológicas que incluem a definição dos conceitos utilizados, as quais estão em anexo nas Estatísticas de Emprego publicadas pelo INE, mas que ninguém lê, são considerados empregados, logo não são incluídos no número oficial de desempregados, todos aqueles que tenham mais de 15 anos de idade e que na semana anterior em que foi feito o inquérito pelo INE sobre o emprego se encontrem numa (portanto, basta que satisfaça uma ) das seguintes condições: (1) Ter efectuado trabalho pelo menos de uma hora, mediante o pagamento de uma remuneração , em dinheiro ou em espécie; (2) Ter um emprego, embora não estando ao serviço, bastando manter uma ligação formal com o emprego; (3) Estar na situação de pré-reforma, mas encontrando-se a trabalhar no período de referência.
Em resumo, para ser considerado empregado (portanto, já não é incluído no grupo de desempregados ) basta que se tenha trabalhado apenas uma hora (é suficiente ter feito um biscate de uma hora) na semana anterior à data em que o inquérito foi realizado pelo INE, e tenha recebido um pagamento (incluindo uma gorjeta) em dinheiro ou espécie. Também são considerados como empregados aqueles trabalhadores que estejam ligados formalmente a empresas que já não funcionam. Portanto, todos estes trabalhadores, embora estejam de facto desempregados, são considerados nas estatísticas oficiais como estando empregados, portanto fazendo assim artificialmente baixar a taxa oficial de desemprego.
Eugénio Rosa
Economista
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