Adital, 19.dezembro/2003
A força da floresta e seus obstáculos de hoje
Construída com o esforço de Chico Mendes, o Conselho Nacional dos Seringueiros, que hoje reúne, aproximadamente, 650 entidades em todo o Brasil, procura levar à frente o legado deixado pelo líder único do movimento extrativista que continua extremamente forte na Amazónia, apesar de todos os tipos de dificuldades que se enfrenta, segundo ressalta seu presidente, Joaquim Belo.
Belo explica que o tamanho dessa dedicação, que começou com Chico, é hoje uma das melhores vitórias ambientais de que se tem conhecimento, mesmo com a presença da violência que ainda se constitui num dos principais obstáculos. Em função dessa luta, nossa reserva extrativista é de uma dimensão tão ampla que não sabemos, ao certo, quantas comunidades estão sendo distribuídas para ser reconhecidas. Nós estamos com, aproximadamente, 6 milhões de hectares, isto representa um número de, mais ou menos, 50 mil famílias", afirma o presidente do Conselho.
O mesmo clima que culminou no assassinato de Chico Mendes há 15 anos ainda ronda os povos das florestas. Os grandes proprietários, os grandes latifúndios, acrescidos agora da questão madeireira e da soja são os principais motivos de conflitos nas áreas amazónicas.
Conforme conta Belo, quando Chico iniciou suas acções já havia uma forma de ocupação desordenada da Amazónia e essa mesma lógica ainda persiste nos dias de hoje.
"O problema é que a política pública está mais voltada para a macro-economia, e não para a micro. Acaba que o próprio estado vai também mais na direcção do grande do que no do pequeno. Aí vem o enfrentamento que a gente tem que fazer, não tem outra forma", afirma.
A violência continua presente e serve de ameaça para todas os trabalhadores. Se na época o centro do conflito era Xapuri, no Acre, actualmente o Pará é o Estado onde mais se registra mortes por conta de conflitos no campo. Por lá, os defensores da Amazónia, segundo a Comissão da Pastoral da Terra, precisam se reunir em segredo para não atrair a atenção dos fazendeiros.
"A violência ainda é muito grande na Amazónia, mas no Pará é muito mais sério. Pelos grandes plantadores de soja, pelos madeireiros. Na verdade, são disputas do grande contra o pequeno. Uma coisa que não vai acabar tão cedo. É um processo", disse Belo.
Sem comentários:
Enviar um comentário