terça-feira, janeiro 06, 2004

Chico Mendes III

Adital, 19.dezembro/2003

Inquérito precisa ser reaberto

Passados 15 anos desde a morte de Chico Mendes pouco foi elucidado sobre o seu assassinato e o caso continua aberto. Das três pessoas directamente citadas, duas foram levadas à julgamento e, actualmente, depois de terem fugido por três anos e voltado à prisão, se encontram em liberdade.

Gumercindo Rodrigues – amigo de Chico Mendes e advogado do Comité Chico Mendes – foi uma das últimas pessoas a falar com o líder seringueiro pouco antes de ele ser morto com um tiro. É ele quem afirma que o caso não teve o julgamento que merecia. Apesar do fazendeiro Darci Alves Pereira e, seu pai, Darly Alves da Silva, terem sido apontados como responsáveis e presos, outros nomes de pessoas envolvidas no crime foram dados, mas não houve seqüência das investigações.

"Um deles, o Mineirinho, nunca foi preso. Está foragido há 15 anos e, portanto, ele nunca foi a julgamento. Outros fatos que constam nos autos apontam suspeitos que nunca foram investigados. O processo não teve o necessário aprofundamento das investigações", afirmou o advogado.

Ele informa ainda que este ano já se requereu ao Secretário de Segurança (Fernando Melo) para que fosse reaberto o caso, que novas investigações fossem feitas para justamente apurar os fatos que na época não foram apurados. "São vários fatos que poderiam levar a outros possíveis envolvidos – ou como mandantes ou como financiadores do assassinato do Chico Mendes – que deveriam responder na medida por suas culpabilidades", acrescentou.

Para o advogado, o caso continua em aberto, já que muitas das informações dadas em depoimento pelo garoto Genésio Junior – testemunha chave que morava na fazenda de Darli Alves no período do assassinato, que relata fatos prévios ao assassinato do seringueiro, inclusive com a descrição e nome de pessoas que teriam participado de reuniões que antecederam a noite de 22 de dezembro – nunca foram investigados.

"Este ano tivemos uma reunião com o Secretário de Justiça e nos foi prometido que a abertura do processo seria feita. Se há investigação isso só a Secretaria de Segurança Pública do Acre poderia informar. Mas até agora nada nos foi repassado", disse.

A proposta, salienta Gumercindo, seria formar um novo inquérito porque o processo está, em tese, foi concluído com a julgamento de dois dos acusados. Mas o que interessaria era realizar uma nova investigação e se fazer justiça com um dos crimes que mais entristeceu o país.

"Darli e Darci cumpriram parte da pena e estão em regime aberto. Hoje o crime estaria enquadrado como um crime hediondo, mas em 1988 não era, portanto admitia progressão do cumprimento da pena. Eles já estão em liberdade condicional, embora tenham levado 30 anos de condenação".

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