Este é um livro muito interessante. Penso que tem um título infeliz, eu teria preferido um outro, preterido pelos autores: Crónica de uma Extinção Anunciada. Porque é disso que se trata: um relato eco-etnológico sobre o desaparecimento do Lagostim-de-patas-brancas.
Ameaçada em toda a Europa, e em Portugal confinada ao Nordeste Transmontano, os últimos exemplares desta espécie de lagostim foram observados na bacia do Sabor em finais da década de 90 (anteontem, portanto...). Este livro relata as aventuras da pesca, da gastronomia, do contrabando e da importância económica e sociocultural do lagostim para as gentes do Planalto Mirandês. Apesar desta importância, estas gentes pactuaram com a anunciada extinção do lagostim, segundo os autores devida essencialmente ao excesso de pesca e à degradação dos habitats ribeirinhos. O livro enumera uma longa lista de chamadas de atenção para o decréscimo populacional de lagostins, uma longa lista de regulamentos e proibições que tentaram refrear a pesca.
Já para o final, os autores citam uma notícia saída na edição de Julho de 1985 do “Mensageiro de Bragança”, na qual se conta como o assunto da protecção legal do lagostim chegou ao Parlamento, e se lamenta como escasseavam os exemplares da espécie. E a esta notícia se segue o momento para mim mais relevante do livro. Passo a citar: “Nenhuma das propostas anteriores foi atendida. Nesse ano pescaram-se os últimos lagostins do [rio] Angueira. Embora nesta altura tivesse havido tomada de consciência por parte dos pescadores, nenhum alterou a sua atitude e comportamento (...). Isto é, não temos nenhum testemunho de que alguém tenha, voluntária e conscientemente, diminuído a frequência de pesca, ou evitado pescar, por exemplo, as fêmeas ovadas ou lagostins de menor tamanho. O que vinha à rede era peixe, ou melhor, lagostim. Se era pequeno demais para cozer ou grelhar, comia-se em arroz ou paella...”(p.70).
A história do lagostim é real e actual: não estamos a conseguir gerir os nossos recursos naturais, mesmo quando estes representam recursos económicos especialmente relevantes. Como é possível ser-se tão burro?
Termino com uma nota positiva para a Câmara de Vimioso, que financiou esta publicação. Bom, pelo menos fica a ganância registada; que sirva de aviso a outras câmaras que poderiam ter papeis muito mais activos neste campo da conservação dos recursos locais.
Este livro pode ser encomendado
e está a ser divulgado acoli
mpf
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