Para um diletante, abordar um assunto desta natureza é tarefa arriscada. Todavia, sendo inegável o impacto negativo e as consequências nefastas que uma gestão pouco responsável das empresas pode trazer para as sociedades onde estão inseridas, vale a pena fazer um esforço. Limitar-me-ei a dar relevo a certos aspectos que não têm tido a merecida e devida cobertura mediática no nosso País, mas que, na minha óptica, estão também na base do nosso atraso. Aos mais abalizados o trabalho ingrato de completar e desenvolver o esboço.
A gestão de uma empresa implica responsabilidades económicas, sociais, éticas, ambientais e até mesmo culturais, normalmente reguladas por lei. Nada mais natural que o lucro seja o objectivo principal de qualquer empresa. O que me parece ser altamente condenável é a apetência reinante do lucro rápido e fácil. (Desnecessário será dizer que existem excepções. Não esqueçamos, porém, que são as excepções que fazem as regras...) Uma boa ética empresarial imporia o reinvestimento imediato de uma alta percentagem dos lucros no desenvolvimento técnico, no ambiente de trabalho e nos recursos humanos da empresa. (Nesta área, o Estado devia ter uma função reguladora, concedendo isenção tributária aos lucros reinvestidos, mas sujeitando os não reinvestidos a pesados impostos.) Não é difícil antever os benefícios sociais e as vantagens para o desenvolvimento económico do país que adviriam destas ou de outras medidas semelhantes.
Mas para além destes aspectos, urge ventilar outros, tão ou ainda mais importantes. Um deles, raramente debatido, é a responsabilidade do patrão no que concerne à saúde física e mental dos seus empregados. Neste campo, resta ainda muito por fazer. A sociedade moderna, o mundo dos negócios em particular, exige do Homem prestações cada vez mais especializadas, mais eficazes e mais céleres. O trabalhador é forçado a desenvolver novas aptidões, a adaptar-se rapidamente a novas condições de trabalho, a enfrentar e superar incertezas no emprego, a ocupar-se, a envolver-se e a adquirir conhecimentos em serviços de informação e técnicas de comunicação. O espírito competitivo é omnipresente, a pressão constante. Porém, o avanço técnico não se faz em harmonia com a constituição física e mental do ser humano nem se compadece com o envelhecimento da população activa. Uma vez reconhecido este facto e tendo em conta o gigantesco peso orçamental da Saúde, devia estar no interesse de todo o Governo consciente procurar tomar providências para minimizar e mitigar os efeitos negativos deste avanço inevitável e irreversível. Compete, pois, aos Governos implementar medidas preventivas e agir junto dos outros patrões para que estes assumam a responsabilidade que lhes cabe, e lhes deveria até ser imposta. O Governo não é apenas o supremo poder político. É também a maior entidade patronal. Que nos dirijamos primeiro ao Governo exigindo o bom exemplo, está na ordem natural das coisas e não espanta certamente ninguém...
Um outro aspecto, que parece ser “vaca sagrada”, é o ordenado dos directores, subdirectores e outros chefes. Num país em contenção, com um nível de vida claramente inferior à maior parte dos países da UE actual, como se explicam e como podem ser moralmente defensáveis ordenados entre vinte mil e cinquenta mil euros mensais? (Dizem que até há quem ganhe mais.) Para não falar nos bónus e outras vantagens económicas, que incentivam a caça ao lucro rápido e fácil, em detrimento do desenvolvimento sustentável e do investimento a longo prazo. Onde está a moral e a responsabilidade social dos empresários? É óbvio que, existindo uma boa ética empresarial, este descalabro não teria lugar. A hora chegou de debater publicamente a qualidade moral dos empresários, de chamar à ordem os dirigentes sindicais e de consciencializar o cidadão.
Feliz Natal!
Asdrúbal Vieira
12/17/03
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