quinta-feira, dezembro 18, 2003

Diversidades

Na Europa, há mais ou menos 300 espécies de peixes de água doce. No Amazonas, há mais de 2000. Na Europa há 2 espécies de rododendros; nos Himalaias há 900 espécies diferentes (!). Urzes, há umas 50 (na Europa), enquanto que na Africa do Sul (em volta da cidade do cabo) há mais de 500 espécies distintas. A medida de diversidade mais simples de aplicar é a riqueza específica, ou seja, contar o número de espécies que existe em determinado local. Por isso, nos casos acima descritos podemos falar de uma maior diversidade de peixes no Amazonas que na Europa, ou uma maior riqueza de Rododendros nos Himalaias, já para não falar das Urzes do Cabo.

Mas nem todas as espécies são iguais; ele há espécies raras, que aparecem muito de vez em quando, ele há espécies frequentes, que estão por todo o lado e ele há espécies dominantes, como os pinheiros nos pinhais e o carrasco nos matagais. E depois há as raríssimas, existentes apenas num determinado ponto do planeta, por vezes numa área não superior a um campo de futebol. Como introduzir esta informação nas medidas de diversidade? na verdade, não é fácil; por isso, foram inventados dezenas, centenas de índices que tentam quantificar ao mesmo tempo a riqueza específica e as proporções relativas das espécies; na sua maioria assumem que para o mesmo número de espécies, a configuração que corresponde a uma frequência equivalente entre todas as espécies corresponde ao máximo de diversidade possível. Traduzindo por miúdos, a maior diversidade corresponde a uma situação de igualdade absoluta entre todas as espécies; na prática, este paradigma nunca é totalmente atingido, e na natureza, há sempre espécies raras e espécies muito frequentes.


Rododendro

Mas o importante é que a diversidade ou a importância dela acaba sempre por se reflectir na ética e na estética das sociedades. Dificilmente alguém ficará indiferente à miríade de cores dos vales dos Himalaias, cada um com os seus rododendros únicos. Mais de 2000 peixes diferente faz dos rios do Amazonas um Ecossistema prodigioso, já para não falar dos recursos económicos que proporciona; tudo o que imaginarmos que um peixe possa fazer, de certeza que no Amazonas encontraremos uma espécie que adoptou esse modo de vida (um dos mais deliciosos alimenta-se dos frutos que caem na água, já que na época das chuvas o enorme rio abraça milhões de árvores com as suas águas imensas, transformando a floresta numa espécie de jardins suspensos sobre a água). 600 espécies de urzes contagiam de cor e cheiros as paisagens do Cabo.


Tambaqui Colossoma macroponum: Durante as cheias, os peixes invadem o interior da floresta e fazem o papel de dispersores de sementes.

Não sei qual o índice mais adequado para medir diversidades; mas a diversidade não é só um número: são cheiros, cores, sabores, emoções, saberes, sons, e tudo o que faz do mundo um planeta simpático para se viver. A diminuição da diversidade, a extinção de cada espécie, cada planta, cada animal, faz do mundo um lugar mais pobre, com menos cheiros, menos emoções, menos cor, menos tudo, conduzindo lentamente mas inexoravelmente a terra para um abismo sem emoções, a preto e branco, sem vida....

Um outro mundo é possível!!!!

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