No Brasil
1) Os partidos políticos são fluidos e não têm uma ideologia coerente. São coleções de personalidades e de caciques. Não têm por isso força (nem vontade) para controlar movimentos sociais.
2) Não existe a extensa rede de apoios do Estado aos movimentos sociais que há na Europa. Como consequência, em Portugal (e em geral na Europa, mas cá muito especialmente)
a) Há muitos movimentos sociais que são correias de transmissão, ou estão muito ligados, a partidos políticos.
b) Há movimentos sociais que na verdade nada têm de sociedade, são apenas um conjunto (pequeno) de ativistas que se mantêm porque são subsidiados pelo Estado.
Em Portugal os movimentos sociais têm muito menos genuinidade do que no Brasil. São muito mais cúpula e muito menos base. Acresce que na sociedade portuguesa não há um forte sentimento anti-liberal. Os anti-liberalistas estão em geral ligados a partidos. Muitos movimentos sociais não se revêm, ou apenas muito parcialmente se revêm, no anti-liberalismo (exemplos: Associação dos Cidadãos Auto--Mobilizados; Associação Portuguesa do Direito ao Crédito; Quercus; DECO; etc). Ou seja, muitos dos mais independentes e mais participados movimentos sociais portugueses não embarcam, ou só com muitas reservas embarcarão, no FSP.
Neste contexto, é natural que o FSP descambe numa luta de personalidades e de partidos. O dinheiro que o sustenta vem, direta ou indiretamente, do Estado (é o Estado quem sustenta os sindicatos e os partidos).
A base social é, efetivamente, muito magra. As cúpulas são muitas. As lutas de galos, também.
No Brasil a paisagem social é completamente diferente.
A propósito, talvez interesse saber que existe nos EUA uma rádio pública chamada "National Public Radio". Essa rádio, que poderíamos dizer ser a análoga americana da Antena 1 portuguesa, existe à custa de peditórios públicos regulares aos seus ouvintes. Ou seja, uma boa parte do dinheiro que sustenta essa rádio provem de contribuições totalmente voluntárias dos seus ouvintes: se estes se fartarem dessa rádio e deixarem de a subsidiar, ela fecha. Isto é típico de uma instituição americana. Provavelmente passa-se o mesmo no Brasil. Em Portugal é diferente: o Estado subsidia tudo, ninguém tem que pagar quase nada do seu bolso.
Luís Lavoura
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