Universidades em crise
Bom, nem todas, nem todas... ele há aquelas cujas estratégias continuam a dar frutos... A Universidade de Cambridge espera um acréscimo de 25 % (!) nas candidaturas deste ano. Isto, considerando que no ano passado já houve 12817 candidatos para 3404 lugares...
Acontece que em Cambridge acham que só os melhores devem entrar, e para isso não abdicam (para além dos exames nacionais), de provas individuais, nomeadamente entrevistas. Cada candidato tem hora e meia para responder a um questionário de escolha múltipla (testem-se vcs próprios numa amostra aqui), destinado a avaliar a capacidade de raciocínio dos futuros alunos (Thinking Skills Assessment test). Eles fazem questão de realçar que este não é um teste ao QI, mas uma medida da capacidade de pensar, capacidade esta que pode ser treinada. Parece que há alunos com boas notas do secundário que têm fracos resultados nos testes, mas que olhando para o percurso dos alunos que entraram na Universidade há dois anos (altura em que o teste foi implementado), os resultados de então batem mais ou menos certo. Este tipo de testes não é inovador: há mais de 100 anos andava um tal Alfred Binet em Paris a tentar identificar os miúdos que seria um desperdício pôr na escola. Em Inglaterra, desde os anos 20 que se procura o Graal dos testes que permitam separar o mérito do aluno, das notas que lhe são atribuídas. Acontece que o problema é cada vez mais premente: já não se trata de “ser desperdício”, mas de “o dinheiro não chegar de facto para providenciar ensino superior para todos” – ressalvo aqui, mais uma vez, que há que contextualizar as coisas: o objectivo do governo britânico é não assegurar mais que a frequência do ensino superior por metade (a melhor metade) dos jovens com menos de 30 anos – ora nós ainda estamos longe dessa meta...
De qualquer modo, o que eu pretendia era salientar que estamos perante dois problemas diferentes: (1) quem suporta o custo do ensino, (2) quem estuda. O primeiro ponto refere-se à questão das propinas, mas o segundo é-lhe transversal: a verdade é que com ou sem propinas não é possível (nem desejável) ter toda a gente numa universidade; pela mesma ordem de ideias, a fracção de alunos que entra numa universidade pode frequentar as aulas gratuitamente ou a pagantes, consoante o modelo adoptado. Estes dois temas deveriam ser abordados separadamente em Portugal, sob pena da questão do aproveitamento (ou do mérito individual) ser absorvida pela questão do direito à educação. Para isso é preciso lembrar que “educação para todos” deve significar “iguais direitos de acesso à educação para todos”, isto é, “tem direito a educação superior quem tem aptidões intelectuais acima da média, independentemente do escalão social”. Claro, depois poderemos adicionar outros factores que afectam o aproveitamento (como a motivação), mas o pessoal de Cambridge é o primeiro a afirmar que o teste não é perfeito, continuando a investir nos métodos de selecção. Até porque depois passamos para outro nível: a gestão "dentro" das universidades - quanto tempo deve um aluno demorar a tirar um curso, por exemplo. Penso que deveriamos analisar as coisas separadamente e por objectivos claros: definir o que queremos, decidir como fazer para chegar lá.
mpf
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