quinta-feira, outubro 02, 2003

Propinas I

Quando houve o primeiro movimento anti-propinas, estava eu por Barcelona, mas acompanhei a coisa porque muitos dos meus amigos estavam envolvidos até ao pescoço. Curiosamente, o grande argumento a favor das propinas era a melhoria da qualidade do serviço prestado e a justiça social. De justiça social nem falo, porque entendo a educação como uma prioridade de qualquer país, devendo por isso ser um esforço comum. Mesmo que estivesse de acordo, então teria que haver primeiro uma revolução nos impostos, para que as bolsas fossem efectivamente atribuidas a quem precisa e não aos filhos dos que fojem aos impostos.
Da melhoria do serviço posso falar com conhecimento da causa. A fatia do orçamento das Universidades que vem das propinas (entre 5% e 10%) vai inteirinha para o orçamento geral da Universidade. O que o estado fez foi poupar uns trocos que passaram a ser os alunos a pagar. Na prática, nem um tostão dos estudantes reverte a seu favor: esse dinheiro entra no bolo para pagar salários e despesas gerais. A bem da decência, deveriam pelo menos assumir que o objectivo é poupar uns trocos e deixarem-se de demagogias.

No presente, já não há dúvidas de que as promessas da primeira guerra das propinas não foram mais do que mentiras; porque carga de água é que agora os estudantes deveriam acreditar nas mesmas mentiras? é que nem se quer se deram ao trabalho de inventar umas novas. As propinas não estão a pagar melhores alojamentos, melhores refeições, mais computadores, melhores bibliotecas, melhores condições de estudo ou melhores programas extra-curriculares. Estão a pagar um bocadinho de salários, a água, a luz e os telefones da Universidade.
Mais de metade dos países da Europa continua com o ensino superior gratuito; curiosamente, a Irlanda, país exemplar porque consegui dar um salto em termos de desenvolvimento e qualidade de vida, passou de um dos Ensinos superiores mais caros da Europa a um sistema gratuito...

PP

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