O presidente da HSBC tem razão quando defende que os indianos e malaios têm tanto direito ao trabalho como nós, e que portanto é legítimo transferir postos de trabalho para a Índia e Malásia.
Se os indianos trabalham melhor (com mais competência e empenho) do que os ingleses, merecem ser premiados por esse facto, e os ingleses castigados pela sua calacice.
Há no entanto um problema com estas transferências. O problema é a falta de procura da economia global. (Vi isto denunciado no livro "O fim do império", de Emmanuel Todd, cuja leitura aconselho vivamente.)
Os indianos fazem o mesmo (ou melhor) que os ingleses por um décimo do salário. Para onde vai a mais-valia? Para os ricos (os gestores e acionistas da HSBC, neste caso), claro.
Só que, os ricos têm menos propensão a gastar o seu dinheiro do que os pobres. Se um operário ganha um salário maior, gasta-o todo (quanto mais não seja em álcool...). Se um gestor ou acionista ganha mais algum, deixa uma boa parte dele no banco.
Conclusão: a procura de bens à escala global diminui. O dinheiro existe, mas não é gasto. A capacidade produtiva existe, mas não é utilizada. O capitalismo entra em crise.
Enquanto a globalização dos postos de trabalho (que em si parece uma boa ideia, uma vez que os indianos e malaios também são seres humanos e também têm direito ao trabalho) fôr essencialmente um mecanismo de procura do mais baixo salário possível, e de aumento das desigualdades sociais, a consequência será sempre, a prazo e globalmente, uma queda do consumo, e com ela uma cada vez maior crise do capitalismo.
O Henry Ford tinha razão. É preciso pagar aos operários salários su-ficientemente altos para que eles possam comprar os carros que produzem. Mesmo que os operários sejam indianos ou malaios, acrescentaria eu...
Luís Lavoura
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