sexta-feira, setembro 05, 2003

Fluxo de capitais

O deficit das contas públicas dos Estados Unidos vai este ano atingir os 3,5% do PIB --- um valor bem superior àquele permitido pelo Pacto da Estabilidade e Crescimento (uma curiosa designação, diga-se de passagem, uma vez que as palavras Estabilidade e Crescimento são a modos que contraditórias... é o Newspeak da política moderna) na União Europeia --- agravado que está pelos gastos na guerra contra o Iraque e pela manutenção de uma extensa força militar por um longo período nesse país.

Mas ainda maior do que o deficit das contas públicas é o deficit da balança de pagamentos dos Estados Unidos, o qual atingirá este ano os 4% do PIB. Uma vez que o PIB dos EUA é 25% do PIB mundial, conclui-se que 1% do PIB mundial é enviado para os EUA a partir do resto do mundo, em troca de nada. Uma quantia não despicienda.

Para pagar este gigantesco deficit na balança dos pagamentos, o qual se prolonga e agrava ano após ano, os EUA necessitam de um fluxo permanente de capitais do resto do mundo para os EUA. É uma necessidade capital da economia americana. O pessoal tem que continuar a colocar as suas poupanças em bancos americanos e na bolsa de Nova Iorque, para que os americanos possam continuar a comprar ao resto do mundo 4% daquilo que consomem.

Para este efeito os EUA necessitam que as moedas dos países do Terceiro Mundo estejam muito voláteis e inseguras, de tal modo que os ricaços do Terceiro Mundo coloquem todas as suas "poupanças" (melhor dizendo, o produto dos seus saques) em dólares em bancos americanos. Quanto mais crises financeiras houver no Terceiro Mundo, melhor isso é para os EUA.

Os EUA necessitam também que haja muitas mafias a fazer muito dinheiro em diversos negócios sujos (tráfico de armas, contrabando de droga, contrabando de tabaco, contrabando de seres vivos, passagem de emigrantes ilegais de países pobres para países ricos, tráfico de mulheres, crianças e órgãos, etc etc etc), uma vez que os mafiosos basicamente o que fazem é sugar o dinheiro de uma data de pobrezinhos e transferi-lo para uma mão-cheia de ricaços, que o colocam diretamente em dólares em bancos dos EUA. Ou seja, os mafiosos também contribuem para suportar o deficit da balança de pagamentos americana.

Luís Lavoura

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