terça-feira, agosto 05, 2003

Os fogos e a sociedade civil

A história de gastar agora uns milhões de euros, que, ou muito me engano, ou irão parar aos bolsos de uns poucos, irrita-me mais profundamente que tudo o resto. Ainda veio o presidente falar de prevenção, mas já se sabe, passada a época dos fogos, facilmente os governantes esquecem a prevenção até ao próximo Verão quente. Esta situação tem um paralelo com a Somália, Etiópia e outros países assolados pela fome. É que da Ajuda internacional, 99% é ajuda de imergência e 1% é ajuda sustentável, a longo prazo. O imediatismo da ajuda de emergência é mesmo só para que os sacos de trigo com as 16 estrelas da Europa ou com a bandeira dos States apareçam nas televisões; confortadas as almas com a solidariedade demonstrada, podemos rapidamente votar outra vez ao esquecimento os problemas crónicos dos países mais pobres do mundo.

Aqui acontece a mesma coisa: o nosso primeiro diz que vai gastar 50 Milhões (que sim, que a Manelinha já deu o seu agreement), na esperança que todos se sintam confortáveis por termos compensado as vítimas; o problema é que as vítimas ou nunca serão compensadas, ou quando são (que de certeza que irá demorar lustros de tempo), não há nada que possa substituir a casa, a charneca ou os seus animais de criação. Mas se calhar, se tivessem gasto os 50 Milhões na prevenção de incêndios, nada disto teria acontecido.
Quatro medidas possiveis: (1) uma rede de vigilância (24 horas por dia) em todo o país, tipo rede geodésica nacional, feita por voluntários, jovens, OTL's, associações locais, empregados camarários, desempregados, estudantes, eu sei lá; Estas pessoas podem ter uma formação mínima, mas essencialmente farão soar o alarme e fazer com o fogo seja combatido no seu início. (2) Uma monitorização por satélite, detectando em tempo real as zonas de maior risco de incêndio e acompanhando em tempo real a evolução do incêndio. É complicado, mas nada que não possa ser feito com algum dinheiro. Mas temo que os políticos reajam sempre em função do imediato e não em função de uma protecção eficaz da nossa floresta. (3) Gestão activa da floresta, com limpeza de matos e extracção de combustível; deveria haver uma recompensa para quem gere bem a floresta e uma penalização para quem não liga nenhuma à floresta. (4) Interrupção das manchas continuas de plantações pela plantação ou favorecimento do aparecimento da floresta autóctone. Os pinhais são muito mais vulneráveis às chamas que os Carvalhais, Montados e outras florestas naturais. A inexistência de grandes manchas de pinhal contínuo tornaria as nossas florestas muito mais resistentes aos incêndios. A Existência de manchas de floresta natural, para além de inibir a propagação do fogo, contribuiria em grande medida para a conservação da nossa diversidade biológica.

PP

PS- O envolvimento da sociedade civil na prevenção de incêndios é uma realidade em França ou mesmo na vizinha Espanha......uma curiosidade: 400 foi sensivelmente o número de militares cedidos por Aznar para combater o desatre causado pelo Prestige; haverá aqui um padrão? quando há uma calamidade, mandam-se 400 militares e está tudo resolvido? é isso?

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