Nota botânica VII - Desdramatização dos fogos
Do ponto de vista Económico, não há dúvida que os fogos são um desatre....
Mas do ponto de vista natural, até que ponto é que os fogos são devastadores? No mediterrâneo, quase todas as plantas estão adaptadas ao fogo. Por isso, quando aqui há uns anos houve uma incêndio na Arrábida, a recuperação foi fulgurante. Duas estratégias essenciais podem ser observadas na nossa flora natural: a primeira, é o rebrotar a partir da toiça queimada do arbusto; como o arbusto já tinha um sistema radicular muito desenvolvido, em poucos anos recupera a dimensão que tinha antes do fogo. Ele não parte do zero, parte de uma parte subterrânea completamente desenvolvida que terá a responsabilidade de gerar uma parte aérea em consonância. Este é o caso do carrasco (Quercus coccifera).
Carrasco (Quercus coccifera)
Outra possibilidade é a planta partir efectivamente do zero. Há espécies cujas sementes são estimuladas pelas altas temperaturas. Por isso, depois de um fogo, as sementes estão prontas para germinar. Este é o caso do alecrim (Rosmarinus officinalis).
Alecrim (Rosmarinus officinalis)
Efectivamente, dois ou três anos depois do incêndio, o ecossistema será mais diverso que antes do incêndio: a maioria das espécies que aí existiam reaparece; novas espécies, nomeadamente plantas bulbosas e plantas anuais aproveitam o espaço deixado livre para colonizarem. Historicamente, os incêndios fazem parte dos ecossistemas mediterrânicos, ajudando a regeneração constante das florestas e proporcionando o mosaico paisagístico essencial à persistência da maioria das espécies no Mediterrâneo. Apesar de deixar aqui esta nota de esperança, este ano não contribuímos para um mosaico de pequenas manchas mas sim para a existência de enormes manchas de terra queimada, que pela sua dimensão, dificilmente se enquadram num mosaico paisagístico ecologicamente sustentado. Mas venham daí os carrascos e os alecrins, as estevas e os jacintos, as gilbardeiras e o fel da terra, e depois falamos.... é que a natureza é definitivamente muito á frente....
PP
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