A Globalização de George Soros
Vale a pena ler pelo menos partes do livro "Globalização", de George Soros, recentemente editado em versão portuguesa (algumas partes do livro são deveras técnicas e difíceis de entender por não-especialistas) (como de costume, será provavelmente melhor ler a versão original em inglês, porque a tradução, embora aceitável, sofre de deficiências). O autor é um judeu húngaro que emigrou há muito tempo para os EUA, onde fez furor e ganhou rios de massa como especulador financeiro. Apesar desta profissão eventualmente menos recomendável, é também uma pessoa com grandes preocupações com causas sociais e que tem gastado muito do seu dinheirinho a ajudar -- ou seja, põe a carteira do mesmo lado que o coração, o que nem toda a gente faz. Além disso, tem um conhe cimento aprofundado daquilo de que fala, o que também é bom.
O livro é interessante porque o autor não é "one-sided" faz críticas a todas as partes, e reconhece razão a todas elas. Em relação à OMC, diz que é uma coisa excelente, e que ainda bem que existe -- o comércio internacional é bom, cria riqueza, e tem que ser regulado, para que se eliminem (e não se criem) protecionismos. Portanto, critica os anti-globalizadores por atacarem a OMC. Diz que o que é preciso é mais instituições globais, e com a mesma força da OMC -- organizações que defendam eficazmente os direitos humanos, os direitos dos trabalhadores, a justiça, e o ambiente. Não é encargo da OMC, diz ele, defender esses valores, nem a OMC pode ter a "expertise" para isso. Mas reconhece que os críticos da OMC têm razão quando dizem que a globalização está a passar por cima desses valores. Por outro lado, critica os anti-globalizadores por serem muito tolerantes para com os maus Estados. Na sua visão anti-globalizadora esquecem-se de que muitos Estados individuais têm um sistema de justiça fraco e corrupto, oprimem os seus cidadãos, não permitem a liberdade política. E esses valores têm que ser desenvolvidos, o que só pode ser feito através de uma limitação da soberania individual dos Estados. Em suma, é um livro muito recomendável para quem queira pensar muitos lados de uma questão -- na melhor tradição judia, diria eu.
Luís Lavoura
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