domingo, julho 06, 2003

Outra CAP é possível III

(continuação do artigo do Washington Post)

Exemplo 1: Malawi

A economia do Malawi Está em ruínas: as tarifas protectoras e as quotas de incentivo interno impediram que os principais produtos de exportação, o Sorghum e o milho, entrassem nos mercados Europeus. Para agravar ainda mais a situação, os subsídios Europeus à exportação inundam literalmente os mercados do 3º mundo com os produtos europeus. Finalmente, o apoio interno aos seus agricultores faz baixar os preços internacionais, obrigando os preços dos produtos do Malawi a baixar e tornando a sua agricultura ainda menos competitiva e pouco atractiva como meio de subsistência.

Exemplo 2. Lacticíneos

Graças aos subsídios da PAC às vacas, a produção de leite domina a agricultura Europeia e os lacticínios Europeias invadem muitos mercados em desenvolvimento.
Mesmo que a densidade populacional, o tempo e os custos de trabalho e produção façam com que a Europa tenha um fraco potencial para produzir lacticínios – em média os custos de produção são o dobro dos custos internacionais – a Europa é responsável por 40% das exportações de leite em pó e mais de 1/3 das exportações de queijo. Os eleitores Europeus podem acreditar que estas políticas defendem as quintas pitorescas de produção leiteira na Holanda ou na França profunda, mas a verdade é que a maioria dos subsídios vão directamente para as grandes multinacionais agro-alimentares como Aria Foods e Nestlé.

Os subsídios da CAP asseguram que a manteiga produzida nos países Africanos (como o Botswana ou o Gabão) não possa competir com a manteiga Europeia. As “montanhas de manteiga” Europeias tem um peso enorme nos mercados internacionais. Como resultado da CAP, que impõe um imposto de 153% à manteiga estrangeira, os Lacticínios dos produtores do Botswana e do Gabão nunca conseguem mais do que uma fatia minúscula do mercado Europeu.

Exemplo 3: Açúcar

Os subsídios aos produtores Europeus de açúcar são ainda maiores e mais negativos para os produtores. O açúcar deveria ser o produto ideal das regiões tropicais, onde a cana do açúcar cresce. Os agricultores de cana do açúcar conseguem produzir mais do dobro de açúcar que os eus rivais do norte com a Baterraba sacarina. Para além disso, o preço das terras, os salários e outros custos de produção são nos países tropicais uma ínfima parte dos custos de produção na Europa.
No entanto, a Europa, com os maiores custos de produção de açúcar em todo o mundo, é o maior exportador de açúcar do mundo. Os agricultores Europeus recebem um preço garantido pelo açúcar, mesmo que seja mais tarde vendido fora da Europa a preços mais baixos. Em casa (Europa), o açúcar é vendido a preços altos; para manter o negócio na família, o imposto de importação é de 140%, o que afasta os produtores estrangeiros do mercado Europeu. Enquanto que os políticos na Europa insistem que os subsídios ao açúcar ajudam os pequenos agricultores, a verdade é que empresas únicas de grande dimensão são responsáveis por todo o mercado doméstico – tanto nas vendas como na produção – em pelo menos 8 países Europeus. Entretanto, os preços praticados pelos governos Europeus e os subsídios à exportação permitem aos produtores Europeus, mesmo da Finlândia, reclamar uma fatia importante do mercado mundial, mesmo na africa Tropical (onde se dá bem a cana do açúcar).

Exemplo 4: Parábola do Camelo

Quando os agricultores Africanos têm produtos agrícolas suficientemente competitivos para entrar no mercado Europeu, uma outra linha de defesa é despoletada. Por exemplo, as directivas Europeias para produtos agrícolas com alfatoxinas, são excessivamente restritivas. Um estudo do Banco Mundial considerou que estas regras prejudicam desproporcionalmente os agricultores africanos. Mesmo a ausência de regulamentação interna pode ser um obstáculo; uma empresa da Mauritânia fez uma pareceria com uma empresa Alemã interessada em introduzir o queijo de camelo na Europa. Mas a Europa deteve o negócio porque não há regulamentação para o queijo de camelo. O produtor africano está no limbo há anos e anos, à espera que Bruxelas escreva a regulamentação.

E os Estates? Claro que não são inocentes...

Os estados Unidos não são um observador inocente. Também eles subsidiam muitos produtos; algodão, o açúcar, lacticínios e milho fazem parte dos mais relevantes, impedindo os EUA de pressionar para implementar algumas reformas multinacionais fundamentais.

PP