Neo?
Há uns dias li um editorial do JMF em que, sem novidade, este nos esclarecia acerca do papel extremoso que, na defesa da reconstrução da democracia e dos direitos humanos, os soldados americanos desempenham no Iraque.
Os problemas que têm surgido, com os ataques que tem vitimado os soldados dos EUA, atribuía-os ele (JMF) a uma “hesitação” dos americanos no desempenho da sua acção pacificadora: um complexo ou “receio de agir com firmeza”.
De facto, segundo o director do Público, esta hesitação em pôr na ordem os prevaricadores constitui um traço da política externa norte americana, que (para bem de todos nós) tem vindo a ser denunciado como um erro crasso pelos chamados neo-conservadores.
Será que JMF considera ter havido falta de firmeza por parte dos americanos em Falluja, no dia 28 de Abril, quando os soldados invasores abriram fogo contra uma manifestação de civis desarmados fazendo 15 mortos e 75 feridos?
E o que pensará disto Wasama al-Salah que nesse dia viu morrer um irmão, outro perder uma perna, a mãe ferida num braço e a cunhada alvejada duas vezes nas pernas, às mãos da resposta frouxa e indolente dos soldados pacificadores americanos?
Suspeito que a invasão americana, e o comportamento dos seus soldados –cuja tradição militarista é totalmente desprovida de humanidade, bem pelo contrário incorpora todos os tiques psicopatas associados a rituais iniciáticos, com praxes violentas claramente direccionadas para humilhação e aniquilação do mais fraco – terá feito mais pela causa do sanguinário Sadam Hussein que anos de propaganda ditatorial no Iraque.
Neo quê. Conservadores? Só se for como eufemismo de colonialistas. O raciocínio que ensaiam é o da perspectiva da imposição de uma ordem internacional, que serve inexoravelmente os mais fortes e os mais ricos, e que, como se começa a perceber, vem procurar justificar o impensável: a intensificação da firmeza nas acções da política externa dos EUA.
A pessoas no Chile, na Argentina, em São Salvador, na Nicarágua, em Granada, no Vietname, em Timor, etc. sabem bem qual é a tradução desta maior “firmeza”: invasão, repressão, tortura, assassínio...
Não há nada de neo nisto! O cinismo de dizer que se pratica uma tal política em nome da liberdade, só é comparável à retórica dos felizmente extintos regimes de Leste e da ex-URSS. No caso de JFM, e conhecendo-lhe as afinidades ideológicas de há uns anos, até se percebe uma certa continuidade...
Passam assim as paginas dos dias.
FMR
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