“Faster than the speed of light”
Assim se chama, no original em língua inglesa (entretanto já traduzido para o português pela Gradiva – mais uma vez a incontornável colecção “Ciência Aberta”!), o magnífico livro do cosmólogo português João Magueijo.
Do livro fizeram fundamentalmente eco na opinião pública, as posições heterodoxas do autor em relação às instituições académicas, e à rigidez burocrática do funcionamento das universidades e institutos onde se produz ciência.
Magueijo, como fala (e escreve) sem papas na língua, soltou umas tantas pérolas que ficaram no ouvido dos jornalistas. Entre elas contam-se os ataques à divisão burocrática do IC (Imperial College, em Londres, onde o autor trabalha actualmente), em que chega ironicamente a sugerir pôr uma bomba no respectivo edifício. No mesmo estilo, sugere ainda que, mesmo continuando a pagar aos funcionários de tal divisão, eles possam ser impedidos de fazer o que quer que seja, em nome de um aumento da produtividade científica!
A propósito das dificuldades que sentiu em publicar os resultados do seu trabalho em revistas da especialidade, Magueijo diz literalmente que o editor de cosmologia da “Nature” é um imbecil, e que merecia que lhe cortassem os tomates!
Por estas e por outras a editora americana do seu livro (que como se está mesmo a ver tem vendido toneladas!) – a “Perseus Publishing” – foi ameaçada com vários processos jurídicos, exigindo avultadas indemnizações. Foi de tal maneira que a edição inglesa, que só surgiu mais tarde, conheceu a luz do dia subtraída de algumas destas opiniões supostamente mais extremas (cheira a lápis azul não cheira?).
Mas descansem os leitores portugueses a nossa Gradiva não censurou uma letra! Parabéns!
Entretanto não é por causa de nada disto que considero o livro magnífico. Nem tanto sequer pelo facto do autor por em causa um dos pressupostos fundamentais da Física desde que Einstein formulou a teoria da relatividade restrita: o de que a velocidade da luz foi, é, e continuará sempre a ser 300 000 Km/s.
Desculpem lá os especialista no assunto mas não foi isso que me fascinou mais no livro (e afinal como livro claramente de divulgação, dirigido aos não profissionais, são estes, como eu, que estão em melhor posição para o julgar!). O que eu gostei mais foi da simplicidade!
A relatividade restrita (com vacas a saltarem em fios eléctricos num sonho de Einstein) a relatividade geral, a constante cosmológica, Alexander Friedmann, as observações de Hubble, a teoria da inflação, os Big Bang riddles e por aí fora até o VSL (“Varying Speed of Light”), tudo isto nos é explicado com a naturalidade de quem ao pequeno almoço nos pede para “passarmos a manteiga”. É absolutamente superior a outros livros do género que metem nozes e ilustrações magníficas – não tem comparação!
Estonteante, divertido, por vezes mesmo hilariante, mas acima de tudo de uma clareza e simplicidade cortantes. Não se fica a dominar nenhum assunto, mas é nos dada a possibilidade do vislumbre de algumas das mais poderosas ideias acerca da origem e evolução do Universo. A inteligência na sua condição genética de coisa simples e poderosa!
Finalmente duas notas: 1) Não esperem uma prosa lamechas sobre a beleza do Universo das estrelas e blá blá blá, esperem no entanto um livro cheio de ideias bonitas; 2) Quando é que se aprova um lei em Portugal que obrigue os nossos cientistas, os que cá trabalham, a publicar divulgação?!
FMR
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