segunda-feira, junho 23, 2003

Bagão Fénix

Outra vez na Antena 1 (é que de manhã tenho costume de vir com o rádio ligado e a única emissora que o chaço apanha é mesmo a Antena 1), Bagão Félix, paladino incansável da menina dos seus olhos, a nova lei laboral, confessou-nos a sua admiração (para além do humanamente razoável) por Gandhi. Claro que este expoente máximo da democracia participativa (estou a falar do Gandhi, não do Bagão), comprovadamente de má índole, levou demasiadamente a sério as suas convicções, e derrubou sem apelo nem agravo o império britânico. Deve ter sido por causa destes maus exemplos que agora uma parte significativa das opiniões respeitáveis dos fazedores de opiniões cá do burgo (por ex: o JPP e o JMF) desconfiem sobremaneira das democracias participativas. É que o objectivo nunca oculto de Gandhi era mesmo expulsar os ingleses (o grande malandro) e assaltar o poder. Mas voltando ao nosso ministro: como é que o nosso querido Bagão se revê no expoente máximo da não-violência? o que ele diz é que, como Gandhi, também ele se deixa guiar pelas máximas da "verdade" e da "constância". Eu iria mais longe: Bagão é mesmo uma reencarnação do Gandhi, versão Portuguesa; qual Phoenix, renasceu das cinzas do mártir Indiano para trazer agora também para Portugal a não-violência laboral. Nesta interpretação livre dos ensinamentos de Gandhi, a democracia participativa fica de pernas para o ar, com toda a população portuguesa a acatar docilmente os desvarios da classe dirigente, que é a única a poder participar. O que eu gostava de ver era Bagão Fénix a convencer os membros todos do Governo a participar em acções não violentas em defesa da nova lei laboral. Sempre que houvesse uma nova fábrica a fechar portas, lá iria a brigada do Bagão defender a sua lei laboral, todos de branquinho (imaginem o Durão de branquinho; imaginem a Ferreira Leite de branquinho ela também....; imaginem o Portas, e o Bagão e eles todos; se o sonho realmente comandasse a vida) a cair para o lado um a seguir ao outro ao apanhar sovas monumentais dos (des)empregados furiosos. Talvez não conquistassem o coração dos Portugueses (que é essa a vontade inconfessável de Bagão) mas contribuíam decisivamente para a elevação da moral dos trabalhadores. Um belo enxerto de porrada num ministro à sua escolha iria de certeza lavar a alma daqueles desempregados. Rapidamente todos os trabalhadores deste país estariam na rua a pedir por despedimentos maciços.

PP

PS – desculpem o uso e abuso da palavra maciço; penso que é uma sequela inconsciente da versão Portuguesa dos “mass media” americanos (vocês sabem do que é que eu estou a falar).

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