Caro Pedro,
Enquanto desempregado que vai rapidamente ficar sem poder dar de comer aos seus filhos, é-me difícil aceitar que promovas o meu
desemprego para que eu aceite ir trabalhar por
migalhas que nem chegarão para pagar o mais básico para manter a minha família.
Estás a deixar-nos sem lugar nesta sociedade. Estás a condenar-nos à morte.
Gostaria que recordasses que esta minha condição não resulta da minha
vontade, pois sou só um meio para que tu atinjas um único fim:
baixar os salários de quem ainda trabalha. Resulta sim da tua teimosia,
dos teus dogmas, da tua ideologia, das tuas crenças de que a
minha morte provocará, por alguma inexplicável razão, o bem-estar dos
restantes. Quer parecer-me que é esta a forma que encontras
para evitar retirar àqueles que têm dinheiro acumulado e que, não
encontrando forma de comprar a minha força de trabalho, não
conseguem multiplicar o dinheiro que lhes sobrou. É evidente que
preferes gastar dinheiro em bancos, que preferes pagar uma dívida
que eu não contraí; que em vez de fomentar a indústria, a agricultura,
as
pescas ou as minas, preferes ir destruindo cada vez mais
postos de trabalho.
O que me estás a fazer é de uma violência mortal. Considero, e tu
estarás certamente de acordo, que sou obrigado a fazer tudo aquilo
que estiver ao meu alcance para evitar que consigas alcançar o teu
propósito.
Quero dizer-te que à medida que se for aproximando o momento da morte da
minha família, que menos soluções encontre, que mais dor
inflijas à minha família; maior é a probabilidade de pôr em prática
tantas ideias que me vão passando pela cabeça e cujo resultado
seria que tivesses o mesmo fim ao qual me estás a levar.
Para evitar o que te digo, gostaria que considerasses seriamente a
possibilidade de te demitires rapidamente e deixasses o caminho
livre à realização de eleições, pois sabes perfeitamente que já não tens
o apoio do Povo.
Sinceramente,
Alcides
Santos
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