Há alguns dias denunciámos os tristes impactos que a empresa basca
Iberdrola tem tido no território indígena Tupinamba, no Brasil. Agora
somos mais uma vez convidados a divulgar o ultraje ambiental e social
que outra empresa, a Cetya (Tajonar, Navarra), está a realizar no estado
do Rio de Janeiro contra o povo Guarani Mbyá e a zona arenosa de
Maricá. Cetya está a construir um complexo turístico para a empresa
turística-residencial brasileira MARAEY. Este complexo incluirá 3 hotéis
da cadeia Marriott. Tanto a MARAEY como empresa como os hotéis Marriott
são apresentados como «sustentáveis», apesar do grande impacto que
terão. Maricá, no coração da Costa Del Sol brasileira, está localizada
na costa a apenas 45 quilómetros do Rio de Janeiro, daí o grande
interesse destas empresas.
Vemos este projecto como uma violação do ambiente ao destruir esta
área arenosa e o seu ecossistema, e como no caso acima mencionado,
também o vemos como um acto imperialista, porque uma empresa estrangeira
está a lucrar em solo estrangeiro em detrimento do território e da sua
população local. Neste caso, além disso, sendo o território de um povo
indígena, leva-nos inevitavelmente de volta ao colonialismo que foi
imposto naquele continente há mais de 500 anos, quando os conquistadores
começaram a invasão e a pilhagem, e que ainda prevalece. Embora
compreendamos que estas práticas já devem ser abandonadas e abominadas, e
sobretudo, rejeitadas pelos governos que as protegem.
O povo Guarani, como muitos outros no Brasil e em todo o Abya Yala e o
Planeta, tem conseguido resistir apesar de constantes agressões como a
que agora denunciamos. A todos eles a nossa admiração por contribuírem
para a nossa biodiversidade e a do Planeta.
Há três dias a comunidade Guaraní Mbyá (Tekoa) de Ka’aguy-Porã
iniciou um bloqueio de terras com o qual nos identificamos e mostramos
solidariedade, porque é seu direito como residentes e defensores daquela
terra, porque aqui sofremos as mesmas agressões de desenvolvimento, as
mesmas agressões de turismo predatório e ganancioso, e porque a defesa
dos últimos vestígios da natureza contribui para resistir à
desflorestação, aos impactos das alterações climáticas e outros
problemas graves que assolam o Planeta. A sua luta é a nossa luta.
No actual momento de crise sistémica profunda, crise ambiental, crise
de recursos (incluindo combustíveis fósseis), crise climática, temos de
repensar o nosso modelo económico e com ele, os transportes, o turismo e
o lazer. Neste momento, projectos como o proposto em Maricá estão em
causa porque envolvem a transferência de milhares de pessoas para essa
zona, o que significa mais voos, mais transportes terrestres, mais
infra-estruturas, etc., que o nosso planeta já não pode assimilar.
Entretanto, significa a destruição de ecossistemas bem preservados
que funcionam como sumidouros de carbono e sustentam o LIFE. É por isso
que também compreendemos que um tal projecto deve ser abandonado.
Daqui dizemos também Cetya kanpora!!!!
Gora Guarani herriaren borroka!!!! Amalurra defenda dezagun!
Ez hemen ez inon! Turismo!!!!
Reproduzimos aqui os comunicados que nos enviaram para melhor compreender a sua situação e as suas exigências.
COMUNICADO DE IMPRENSA
A PARTIR DESTA SEGUNDA-FEIRA 17 DE ABRIL
A COMUNIDADE GUARANI DA ALDEIA KA’AGUY-PORÃ PINTADA DE GUERRA
BLOQUEIARA AS OBRAS DO RESORT ESPANHOL
QUE PAIRA SOBRE A RESTINGA DE MARICA
Apesar
de embargos judiciais repetidos, a empresa “IDB Brasil”, filial da
empresa espanhola Cetya, persiste em querer implementar o mega
empreendimento imobiliário “MARAEY” na restinga de Marica, com a benção
da Prefeitura de Marica.
A
restinga de Marica virou portanto o teatro de uma luta ideológica entre
o caminho “desenvolvimentista” e o modelo “ambientalista” que
permitiria atingir a felicidade econômica. Quais argumentos levantam uma
empresa estrangeira e uma prefeitura petista para convencer que um
bloco de cimento numa APA é “legal” ? O projeto social de compensação ao
resort devia ser um conjunto de projetos a favor dos indígenas do
Estado do Rio. É ético compensar, mesmo com coisas boas, uma coisa muito
ruim ? Se não for ruim, precisava de “Projeto de Compensação” ?
Tais
são as numerosas perguntas que a corajosa resistência dos povos
levanta. A resposta pode ser nas fotografias. O que lhe parece melhor ?
Bota uma cruz na foto que você prefere… Tal foi o jeito de comunicar da
artista francesa Delphine Fabbri Lawson, que teve um filho com o cacique
Darci Tupã.
Poucos
dias atrais, a obra de destruição da cobertura vegetal e do frágil solo
da restinga começou. Os homens da aldeia jà não podem mais circular na
APA em busca do sapé com qual constroem suas ocas e as jovens índias
foram barradas dos campos onde encontravam as sementes com quais fazem
artesanato.
As
comunidades pesqueira e indígena locais, apoiadas por moradores,
universitários e ambientalistas de todas origens, revoltadas pela
atitude da empresa e da Prefeitura e pela destruição da cobertura
vegetal da restinga que já esta acontecendo na restinga da APA Estadual
de Maricá, resolveram manifestar-se amanha de maneira radical :
–
As associações SOS RESTINGA, ACLAPPEZ, APALMA que apoiam a comunidade
pesqueira de Zacarias, chamaram para um vigoroso protesto na Câmara de
vereadores de Maricá-RJ
–
A comunidade guarani Mbyá do Tekoa Ka’aguy Hovy Porã (aldeia Mata Verde
Bonita), instalada na terra da FSBL a convite do ex-prefeito de Maricá,
pintara-se de guerra e bloqueiara com os próprios corpos as obras do
resort. O Instituto Nhandereko, sediado na aldeia, esta coordenando a
ação.
CHAMADO À RESISTÊNCIA
CONTRA A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL !
JORNALISTAS, DIVULGAM ! APOIADORES, VENHAM
defender a APA da restinga de Maricá
e apoiar as comunidades pesqueira e indígena que vivem por là !
Os
Indios e a Comunidade Pesqueira de Zacarias estão chamando seus
apoiadores, a população amiga da vizinhança, as associações defensoras
da Restinga, a Comissão Guarani Yorupa e a FUNAI para lhes dar força .
VENHAM na Câmara de Veradores e VENHAM na sublime paisagem da Restinga
opor-se às obras malditas. Vamos curtir juntos um belo DIA DE
RESISTÊNCIA. UNIDOS ESTAREMOS MAIS FORTES !
Assinado por :
–
Vilson, da Associação de Pescadores Artesanais de Zacarias que há mais
de uma década luta contra o resort destruidor do IDB Brasil. Sejam
ligados com ele no Instagram : sosrestingamarica
– a professora da UERJ Desirée Freire
–
o professor Marco Antonio da Silva Mello do Departamento de
Antropologia da UFF (GAPICHF-UFF) e Coordenador do Laboratório de
Etnografia Metropolitana (LeMetro/IFCS-UFRJ) que é autor do livro Gente
das areias: história, meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro –
Maricá-RJ – 1975 a 1995 (Volume 4) que registra a presença centenária há
mais de 3 séculos da Comunidade Pesqueira de Zacarias no território da
APA Estadual de Maricá.
–
Sergio Ricardo (ambientalista e fundador do Movimento Baía Viva, membro
do CEDIND, mestrando na Universidade Federal Rural do RJ (UFRRJ) na
área de Práticas em Desenvolvimento Sustentável; responsável pelo ……do
saneamento básico nas aldeias do Estado do Rio.)
–
Darci Tupã, presidente do Instituto Nhandereko, delegado da Comissão
yorupa no Estado do RJ, ex cacique da Aldeia Ka’aguy Hovy Porã, hoje
conselheiro da Aldeia para assuntos exteriores; em breve diretor da
FUNAI no Estado do RJ.
– Amarildo ?
– Isaias
– Jurema, cacica da Aldeia Ka’aguy Hovy Porã
– Zenico
Etc (Darci poderia mostrar isso a eles para saber se eles “assinam em baixo”.
Em anexo :
#
Manifesto do povo guarani Mby’a do Tekoa Ka’aguy Hovy Porã (Aldeia Mata
Verde Bonita) emitido pelo Instituto Nhandereko – São José do Imbassai –
Maricá, em 8 de agosto de 2022.
#
Carta assinada pelos membros da Terra Indígena Tekoa Ka’aguy Hovy Porã,
datada de 24 de maio de 2022, em que a Cacica Jurema Nunes de Oliveira
comunica às autoridades públicas sobre a decisão da comunidade de
«permanecer nas terras ocupadas atuais no bairro de São José de
Imbassai, Maricá.”
#
Denúncia feita à Anistia Internacional feita em nome de Vera Xunu, o
filho de Darci Tupã Nunes de Oliveira e Delphine Fabbri Lawson, neste
ato representada pela mãe.
Número da manifestação: 20220053930
Chave de Consulta: 2412f6cead89287fd268d44de274bf27
Data da manifestação: 09/07/2022).
#
Ofício no. 48/2022 – Procuradoria da República no Município de Niterói
(RJ) – Ministério Público Federal – Assunto: Invasão da Terra Indígena
Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, localizada no Município de Maricá-RJ – pedido
de providências.
#
FUNAI_ OFÍCIO No 69/2022/CTL – PARATY/CR-LISE/FUNAI. Carta de
compromisso de apoio técnico ao Projeto e Implantação do Instituto
Nhandereko, instalado na Aldeia Indígena Guarani M’Byá Ka’ Aguy Hovi
Porã (Mata Verde Bonita). Referência: Processo no 08122.000337/2022-66.
# Chamado áudio de Amarildo Nunes de Oliveira, musico, liderança da Aldeia
# Video de Darci Tupã feito hoje 16/04/23 no terreno das obras
#restingamarica
#restingaviva #sosrestingamarica #comunidadezacarias
#conflitosambientais #maricarj #justiçaambiental #environmental
#apamarica #comunidadestradicionais #ods #apalma #acclapez #prorestinga
#foramaraey
PARA VER DE QUE DIABO SE TRATA e BRINCAR NO JOGO “DE QUE LADO VOCÊ ESTA”
# O “rolo compressor” de cimento cheio de sabão em pó “greenwashing” que ameaça a bela restinga de Marica :
https://www.instagram.com/p/Cqnks5Ltrxs/?igshid=MWNmMTk3NmQ%3D
A comparar com as fotos da restinga virgem e pura.
E
com as fotos das construções tradicionais guarani, feitas com matérias
naturais, em plena harmonia com a natureza que as cerca.
#
Video do ex prefeito Quaqua vangloriando o mega empreendimento Maraey e
a criação em breve de um cassino “para financiar a cultura”.
[19/4 15:57] Tchella:
COLONIZADOR ESPANHOL, IDB BRASIL, INICIA OBRAS DE DESTRUIÇÃO DA
BIODIVERSA APA ESTADUAL DE MARICÁ, CRIADA EM 1984, QUE AMEAÇA EXPULSAR /
REMOVER / DESAPROPRIAR A CENTENÁRIA COMUNIDADE PESQUEIRA DE ZACARIAS E A
ALDEIA GUARANI MBYÁ MATA VERDE BONITA D
AS TERRAS QUE OCUPAM E ONDE ATUAM NA PROTEÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
Isso chama-se RACISMO AMBIENTAL!
Sem comentários:
Enviar um comentário