quinta-feira, abril 20, 2023

Não ao complexo turístico espanhol em Maricá, Rio de Janeiro

Há alguns dias denunciámos os tristes impactos que a empresa basca Iberdrola tem tido no território indígena Tupinamba, no Brasil. Agora somos mais uma vez convidados a divulgar o ultraje ambiental e social que outra empresa, a Cetya (Tajonar, Navarra), está a realizar no estado do Rio de Janeiro contra o povo Guarani Mbyá e a zona arenosa de Maricá. Cetya está a construir um complexo turístico para a empresa turística-residencial brasileira MARAEY. Este complexo incluirá 3 hotéis da cadeia Marriott. Tanto a MARAEY como empresa como os hotéis Marriott são apresentados como «sustentáveis», apesar do grande impacto que terão. Maricá, no coração da Costa Del Sol brasileira, está localizada na costa a apenas 45 quilómetros do Rio de Janeiro, daí o grande interesse destas empresas.

Vemos este projecto como uma violação do ambiente ao destruir esta área arenosa e o seu ecossistema, e como no caso acima mencionado, também o vemos como um acto imperialista, porque uma empresa estrangeira está a lucrar em solo estrangeiro em detrimento do território e da sua população local. Neste caso, além disso, sendo o território de um povo indígena, leva-nos inevitavelmente de volta ao colonialismo que foi imposto naquele continente há mais de 500 anos, quando os conquistadores começaram a invasão e a pilhagem, e que ainda prevalece. Embora compreendamos que estas práticas já devem ser abandonadas e abominadas, e sobretudo, rejeitadas pelos governos que as protegem.

O povo Guarani, como muitos outros no Brasil e em todo o Abya Yala e o Planeta, tem conseguido resistir apesar de constantes agressões como a que agora denunciamos. A todos eles a nossa admiração por contribuírem para a nossa biodiversidade e a do Planeta.

Há três dias a comunidade Guaraní Mbyá (Tekoa) de Ka’aguy-Porã iniciou um bloqueio de terras com o qual nos identificamos e mostramos solidariedade, porque é seu direito como residentes e defensores daquela terra, porque aqui sofremos as mesmas agressões de desenvolvimento, as mesmas agressões de turismo predatório e ganancioso, e porque a defesa dos últimos vestígios da natureza contribui para resistir à desflorestação, aos impactos das alterações climáticas e outros problemas graves que assolam o Planeta. A sua luta é a nossa luta.

No actual momento de crise sistémica profunda, crise ambiental, crise de recursos (incluindo combustíveis fósseis), crise climática, temos de repensar o nosso modelo económico e com ele, os transportes, o turismo e o lazer. Neste momento, projectos como o proposto em Maricá estão em causa porque envolvem a transferência de milhares de pessoas para essa zona, o que significa mais voos, mais transportes terrestres, mais infra-estruturas, etc., que o nosso planeta já não pode assimilar.

Entretanto, significa a destruição de ecossistemas bem preservados que funcionam como sumidouros de carbono e sustentam o LIFE. É por isso que também compreendemos que um tal projecto deve ser abandonado.

Daqui dizemos também Cetya kanpora!!!! 1

Gora Guarani herriaren borroka!!!! Amalurra defenda dezagun!

Ez hemen ez inon! Turismo!!!!

Reproduzimos aqui os comunicados que nos enviaram para melhor compreender a sua situação e as suas exigências.


COMUNICADO DE IMPRENSA
 
A PARTIR DESTA SEGUNDA-FEIRA 17 DE ABRIL
 A COMUNIDADE GUARANI DA ALDEIA KA’AGUY-PORÃ PINTADA DE GUERRA 
BLOQUEIARA AS OBRAS DO RESORT ESPANHOL
QUE PAIRA SOBRE A RESTINGA DE MARICA
 
Apesar de embargos judiciais repetidos, a empresa “IDB Brasil”, filial da empresa espanhola Cetya, persiste em querer implementar o mega empreendimento imobiliário “MARAEY” na restinga de Marica, com a benção da Prefeitura de Marica. 
A restinga de Marica virou portanto o teatro de uma luta ideológica entre o caminho “desenvolvimentista” e o modelo “ambientalista” que permitiria atingir a felicidade econômica. Quais argumentos levantam uma empresa estrangeira e uma prefeitura petista para convencer que um bloco de cimento numa APA é “legal” ? O projeto social de compensação ao resort devia ser um conjunto de projetos a favor dos indígenas do Estado do Rio. É ético compensar, mesmo com coisas boas, uma coisa muito ruim ? Se não for ruim, precisava de “Projeto de Compensação” ? 
Tais são as numerosas perguntas que a corajosa resistência dos povos levanta. A resposta pode ser nas fotografias. O que lhe parece melhor ? Bota uma cruz na foto que você prefere… Tal foi o jeito de comunicar da artista francesa Delphine Fabbri Lawson, que teve um filho com o cacique Darci Tupã.
 
 
 
Poucos dias atrais, a obra de destruição da cobertura vegetal e do frágil solo da restinga começou. Os homens da aldeia jà não podem mais circular na APA em busca do sapé com qual constroem suas ocas e as jovens índias foram barradas dos campos onde encontravam as sementes com quais fazem artesanato. 
 
As comunidades pesqueira e indígena locais, apoiadas por moradores, universitários e ambientalistas de todas origens, revoltadas pela atitude da empresa e da Prefeitura e pela destruição da cobertura vegetal da restinga que já esta acontecendo na restinga da APA Estadual de Maricá, resolveram manifestar-se amanha de maneira radical :
 
– As associações SOS RESTINGA, ACLAPPEZ, APALMA que apoiam a comunidade pesqueira de Zacarias, chamaram para um vigoroso protesto na Câmara de vereadores de Maricá-RJ
 

– A comunidade guarani Mbyá do Tekoa Ka’aguy Hovy Porã (aldeia Mata Verde Bonita), instalada na terra da FSBL a convite do ex-prefeito de Maricá, pintara-se de guerra e bloqueiara com os próprios corpos as obras do resort. O Instituto Nhandereko, sediado na aldeia, esta coordenando a ação.

CHAMADO À RESISTÊNCIA 
CONTRA A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL ! 
 
JORNALISTAS, DIVULGAM ! APOIADORES, VENHAM 
defender a APA da restinga de Maricá 
e apoiar as comunidades pesqueira e indígena que vivem por là !
 
Os Indios e a Comunidade Pesqueira de Zacarias estão chamando seus apoiadores, a população amiga da vizinhança, as associações defensoras da Restinga, a Comissão Guarani Yorupa e a FUNAI para lhes dar força . VENHAM na Câmara de Veradores e VENHAM na sublime paisagem da Restinga opor-se às obras malditas. Vamos curtir juntos um belo DIA DE RESISTÊNCIA. UNIDOS ESTAREMOS MAIS FORTES !
 
Assinado por : 
– Vilson, da Associação de Pescadores Artesanais de Zacarias que há mais de uma década luta contra o resort destruidor do IDB Brasil. Sejam ligados com ele no Instagram : sosrestingamarica
– a professora da UERJ Desirée Freire 
– o professor  Marco Antonio da Silva Mello do Departamento de Antropologia da UFF (GAPICHF-UFF) e Coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro/IFCS-UFRJ) que é autor do livro Gente das areias: história, meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro – Maricá-RJ – 1975 a 1995 (Volume 4) que registra a presença centenária há mais de 3 séculos da Comunidade Pesqueira de Zacarias no território da APA Estadual de Maricá.
 
– Sergio Ricardo (ambientalista e fundador do Movimento Baía Viva, membro do CEDIND, mestrando na Universidade Federal Rural do RJ (UFRRJ) na área de Práticas em Desenvolvimento Sustentável; responsável pelo ……do saneamento básico nas aldeias do Estado do Rio.)
– Darci Tupã, presidente do Instituto Nhandereko, delegado da Comissão yorupa no Estado do RJ, ex cacique da Aldeia Ka’aguy Hovy Porã, hoje conselheiro da Aldeia para assuntos exteriores; em breve diretor da FUNAI no Estado do RJ.
– Amarildo ?
– Isaias
– Jurema, cacica da Aldeia Ka’aguy Hovy Porã
– Zenico
Etc  (Darci poderia mostrar isso a eles para saber se eles “assinam em baixo”.

 

Em anexo :
# Manifesto do povo guarani Mby’a do Tekoa Ka’aguy Hovy Porã (Aldeia Mata Verde Bonita) emitido pelo Instituto Nhandereko – São José do Imbassai – Maricá, em 8 de agosto de 2022. 
 
# Carta assinada pelos membros da Terra Indígena Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, datada de 24 de maio de 2022, em que a Cacica Jurema Nunes de Oliveira comunica às autoridades públicas sobre a decisão da comunidade de «permanecer nas terras ocupadas atuais no bairro de São José de Imbassai, Maricá.”
 
# Denúncia feita à Anistia Internacional feita em nome de Vera Xunu, o filho de Darci Tupã Nunes de Oliveira e Delphine Fabbri Lawson, neste ato representada pela mãe.
Número da manifestação: 20220053930
Chave de Consulta: 2412f6cead89287fd268d44de274bf27
Data da manifestação: 09/07/2022).
 
# Ofício no. 48/2022 – Procuradoria da República no Município de Niterói (RJ) – Ministério Público Federal – Assunto: Invasão da Terra Indígena Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, localizada no Município de Maricá-RJ – pedido de providências.
 
# FUNAI_ OFÍCIO No 69/2022/CTL – PARATY/CR-LISE/FUNAI. Carta de compromisso de apoio técnico ao Projeto e Implantação do Instituto Nhandereko, instalado na Aldeia Indígena Guarani M’Byá Ka’ Aguy Hovi Porã (Mata Verde Bonita). Referência: Processo no 08122.000337/2022-66.
 
# Chamado áudio de Amarildo Nunes de Oliveira, musico, liderança da Aldeia 
 
# Video de Darci Tupã feito hoje 16/04/23 no terreno das obras 
 
# Apoio à comunidade de pescadores Zacarias no instagram : https://www.instagram.com/reel/CoA7M-KpFnM/?igshid=NjcyZGVjMzk=
#restingamarica #restingaviva #sosrestingamarica #comunidadezacarias #conflitosambientais #maricarj #justiçaambiental #environmental #apamarica #comunidadestradicionais #ods #apalma #acclapez #prorestinga #foramaraey
 
PARA VER DE QUE DIABO SE TRATA e BRINCAR NO JOGO “DE QUE LADO VOCÊ ESTA”
 
# O “rolo compressor” de cimento cheio de sabão em pó “greenwashing” que ameaça a bela restinga de Marica :
 https://www.instagram.com/p/Cqnks5Ltrxs/?igshid=MWNmMTk3NmQ%3D
A comparar com as fotos da restinga virgem e pura.
E com as fotos das construções tradicionais guarani, feitas com matérias naturais, em plena harmonia com a natureza que as cerca. 
 
 
# Video do ex prefeito Quaqua vangloriando o mega empreendimento Maraey e a criação em breve de um cassino “para financiar a cultura”.
[19/4 15:57] Tchella: COLONIZADOR ESPANHOL, IDB BRASIL, INICIA OBRAS DE DESTRUIÇÃO DA BIODIVERSA APA ESTADUAL DE MARICÁ, CRIADA EM 1984, QUE AMEAÇA EXPULSAR / REMOVER / DESAPROPRIAR A CENTENÁRIA COMUNIDADE PESQUEIRA DE ZACARIAS E A ALDEIA GUARANI MBYÁ MATA VERDE BONITA D
AS TERRAS QUE OCUPAM E ONDE ATUAM NA PROTEÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
 
Isso chama-se RACISMO AMBIENTAL!

 

 


Sem comentários: