Tive
a oportunidade de participar em Montreal, no Canadá, nos primeiros dias
do mês de outubro do corrente ano de 2015, de um seminário de
preparação do Fórum Social Mundial de 2016, para o qual tinham sido
convidados os membros do Conselho Internacional do FSM.
Voltei
ao Brasil muito bem impressionado, diria mesmo entusiasmado com o
trabalho do Comitê de Facilitadores. O processo de participação que
lançaram levará seguramente à realização de um muito bom Fórum em agosto
de 2016.
Mais
de 50 pessoas representavam quase outro tanto de organizações da
sociedade civil canadense, além dos membros do CI que puderam ir. Depois
de dois dias e meio de trabalho intenso, todos puderam se associar a
uma enorme manifestação de servidores públicos contra a austeridade (a
expectativa era de 60 a 75 mil participantes mas vieram 150.000).
Vive-se hoje no Canada um clima de muita efervescência política,
inclusive pela proximidade das eleições federais (no próximo dia 18 de
outubro).
No
quarto dia pela manhã, um domingo, os resultados foram apresentados
numa conferência de imprensa que contou com boa participação e obteve
repercussão nos jornais. Participei dessa conferência como membro do
Conselho Internacional do FSM, assim como uma jovem mulher que participa
da coordenação do Movimento de Aborigenes Idle no More (Não à
Passividade). Na tarde desse dia realizou-se uma marcha organizada pela
Assembleia das Primeiras Nações do Canadá, em Montreal e em várias
outras cidades do país, de protesto contra a violência às mulheres
aborígenes e de homenagem às assassinadas ou desaparecidas.
Um
dos temas da conferência mais destacados no noticiário do dia seguinte
foi a questão dos vistos de entrada no Canadá, exigindo uma especial
atenção das autoridades federais, e que constituiu uma das preocupações
do Conselho internacional quando decidiu pela realização do FSM 2016 em
Montreal. Além de indicarem que a livre circulação internacional das
pessoas será um dos temas a serem discutidos no Fórum, seus
facilitadores relataram as gestões que estão sendo feitas para que se
facilite a concessão de vistos, como se conseguiu, através de instruções
especiais a todas as embaixadas e consulados, com os jogos
pan-americanos realizados em julho último no Canada.
Em
todo FSM surgem inovações no modo de realizá-lo. Eu gostaria de citar
duas das oreientaçoes adotadas pelos companheiros canadenses: quanto ao
modo de interessar as organizações a participarem e quanto à
constituição do Fundo de Solidariedade para tornar possível a vinda ao
Canadá de membros de organizações com recursos mais limitados.
Quanto
à primeira, as discussões da reunião de que participei foram focadas no
conteúdo do que é possível discutir e articular num Fórum Social, e não
em aspectos simplesmente organizativos. Isto se fez dedicando a maior
parte do tempo, inclusive com técnicas diversas de trabalho em grupo e
em plenária, à definição dos “eixos temáticos” a serem propostos aos
participantes do FSM. Essa metodologia permitiu descobrir e aprofundar a
visão mais “politica” do Fórum, relativa aos objetivos de nossas lutas,
e isto ajuda a que sejam superados preconceitos mútuos, descubra-se a
possibilidade de novas alianças e aumente o interesse em apoiar a
realização do Fórum. Isto já é um Fórum Social em realização.
A
segunda inovação visa superar a dificuldade que hoje se constata para a
formação do Fundo de Solidariedade, ao mesmo tempo que afastar os
riscos de criação de centros de poder na dinâmica dos Fóruns, no
processo decisório sobre quem receberá a ajuda do Fundo. A coleta de
recursos será feita pelos procedimentos de crowdfunding, que hoje
em dia se desenvolvem bastante graças à Internet, com a apresentação
transparente dos destinatários dos recursos recolhidos e com a
possibilidade deles próprios se ajudarem mutuamente, com recursos
obtidos acima das suas necessidades. Por uma feliz coincidência, uma ONG
canadense que promove crowdfunding está instalada na mesma sala
compartilhada em que trabalha o Secretariado do Fórum, no espaço
adaptado de uma fábrica desativada que abriga organizações, movimentos e
iniciativas sociais necessitando de um local para sua respectiva
administração.
Acredito
que muita coisa nova ainda surgirá, até porque os facilitadores do FSM
2016 participarão de vários encontros previstos no processo do FSM e
fora dele, como a reunião do Conselho Internacional no final de Outubro
em Salvador, Brasil, as reuniões que estão sendo programadas durante a
COP 21 em Paris, e o Fórum Social Temático de avaliação dos 15 anos de
FSM, a se realizar no fim de janeiro em Porto Alegre, Brasil. Mas ao
longo do tempo que nos separa do FSM de 2016 os canadenses estão
contando com a ajuda e o apoio de todos os que acreditamos que o
processo FSM tem um importante papel a cumprir na luta de tantos rumo
ao “outro mundo possível, necessário e urgente”.
Chico Whitaker, Brasil
Sem comentários:
Enviar um comentário