terça-feira, outubro 13, 2015

Relato de participação em reunião preparatória do FSM 2016 em Montreal, Canada


Tive a oportunidade de participar em Montreal, no Canadá, nos primeiros dias do mês de outubro do corrente ano de 2015, de um seminário de preparação do Fórum Social Mundial de 2016, para o qual tinham sido convidados os membros do Conselho Internacional do FSM.

Voltei ao Brasil muito bem impressionado, diria mesmo entusiasmado com o trabalho do Comitê de Facilitadores. O processo de participação que lançaram levará seguramente à realização de um muito bom Fórum em agosto de 2016.

Mais de 50 pessoas representavam quase outro tanto de organizações da sociedade civil canadense, além dos membros do CI que puderam ir. Depois de dois dias e meio de trabalho intenso, todos puderam se associar a uma enorme manifestação de servidores públicos contra a austeridade (a expectativa era de 60 a 75 mil participantes mas vieram 150.000). Vive-se hoje no Canada um clima de muita efervescência política, inclusive pela proximidade das eleições federais (no próximo dia 18 de outubro).

No quarto dia pela manhã, um domingo, os resultados foram apresentados numa conferência de imprensa que contou com boa participação e obteve repercussão nos jornais. Participei dessa conferência como membro do Conselho Internacional do FSM, assim como uma jovem mulher que participa da coordenação do Movimento de Aborigenes Idle no More (Não à Passividade). Na tarde desse dia realizou-se uma marcha organizada pela Assembleia das Primeiras Nações do Canadá, em Montreal e em várias outras cidades do país, de protesto contra a violência às mulheres aborígenes e de homenagem às assassinadas ou desaparecidas.

Um dos temas da conferência mais destacados no noticiário do dia seguinte foi a questão dos vistos de entrada no Canadá, exigindo uma especial atenção das autoridades federais, e que constituiu uma das preocupações do Conselho internacional quando decidiu pela realização do FSM 2016 em Montreal. Além de indicarem que a livre circulação internacional das pessoas será um dos temas a serem discutidos no Fórum, seus facilitadores relataram as gestões que estão sendo feitas para que se facilite a concessão de vistos, como se conseguiu, através de instruções especiais a todas as embaixadas e consulados, com os jogos pan-americanos realizados em julho último no Canada.

Em todo FSM surgem inovações no modo de realizá-lo. Eu gostaria de citar duas das oreientaçoes adotadas pelos companheiros canadenses: quanto ao modo de interessar as organizações a participarem e quanto à constituição do Fundo de Solidariedade para tornar possível a vinda ao Canadá de membros de organizações com recursos mais limitados.

Quanto à primeira, as discussões da reunião de que participei foram focadas no conteúdo do que é possível discutir e articular num Fórum Social, e não em aspectos simplesmente organizativos. Isto se fez dedicando a maior parte do tempo, inclusive com técnicas diversas de trabalho em grupo e em plenária, à definição dos “eixos temáticos” a serem propostos aos participantes do FSM. Essa metodologia permitiu descobrir e aprofundar a visão mais “politica” do Fórum, relativa aos objetivos de nossas lutas, e isto ajuda a que sejam superados preconceitos mútuos, descubra-se a possibilidade de novas alianças e aumente o interesse em apoiar a realização do Fórum. Isto já é um Fórum Social em realização.

A segunda inovação visa superar a dificuldade que hoje se constata para a formação do Fundo de Solidariedade, ao mesmo tempo que afastar os riscos de criação de centros de poder na dinâmica dos Fóruns, no processo decisório sobre quem receberá a ajuda do Fundo. A coleta de recursos será feita pelos procedimentos de crowdfunding, que hoje em dia se desenvolvem bastante graças à Internet, com a apresentação transparente dos destinatários dos recursos recolhidos e com a possibilidade deles próprios se ajudarem mutuamente, com recursos obtidos acima das suas necessidades. Por uma feliz coincidência, uma ONG canadense que promove crowdfunding está instalada na mesma sala compartilhada em que trabalha o Secretariado do Fórum, no espaço adaptado de uma fábrica desativada que abriga organizações, movimentos e iniciativas sociais necessitando de um local para sua respectiva administração.

Acredito que muita coisa nova ainda surgirá, até porque os facilitadores do FSM 2016 participarão de vários encontros previstos no processo do FSM e fora dele, como a reunião do Conselho Internacional no final de Outubro em Salvador, Brasil, as reuniões que estão sendo programadas durante a COP 21 em Paris, e o Fórum Social Temático de avaliação dos 15 anos de FSM, a se realizar no fim de janeiro em Porto Alegre, Brasil. Mas ao longo do tempo que nos separa do FSM de 2016 os canadenses estão contando com a  ajuda e o apoio de todos os que acreditamos que o processo FSM tem um  importante papel a cumprir na luta de tantos rumo ao “outro mundo possível, necessário e urgente”.

Chico Whitaker, Brasil

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