domingo, dezembro 12, 2010

Wikileaks: agora é certo, a luta continua!

O caso do Wikileaks versus Assange - agora eleito o homem do ano pela Time - levanta questionamentos muito interessantes para a nova sociedade global em que já vivemos, particularmente no domínio da net, do jurídico e das liberdades.

Começou por ser um susto-escândalo quando, de repente, somos confrontados com um acervo de 250 mil documentos, confidenciais ou secretos, a maior parte descontextualizados, enviados de vários organismos diplomáticos americanos para Washington.

Os primeiros a reagir, com muita virulência, foram os EUA e a Inglaterra mas depois vieram a Rússia, a Itália, o Paquistão, a Venezuela e muitos outros, todos a braços com pretensas revelações que, verdadeiras ou não, desequilibraram o stablishment e deram vida a muitas oposições.

O Wikileaks veio comprovar um novo modelo de informação que deixou de ser de massas, controlada por empresas, para ser em rede e nessa rede cada um forma do caso a sua opinião individual.

Abriu uma interessante batalha pelo controlo da internet,pela liberdade total na rede, sobre os conceitos de segredo e privacidade, que obriga a uma redefinição das diplomacias e abre a luta sem quartel entre aquilo a que se chama a transparência como contrapeso democrático.

Estamos face à primeira infoguerra mundial, onde o campo de batalha é o Wikileaks, os "soldados" são os utilizadores da rede e as bombas são lançadas pelo piratas, ou pelos governos, para liquidar o inimigo.

Houve no início duas instâncias que vieram credibilizar o Wikileaks.

Os EUA, que defenderem-se com tanta veemência - houve senadores que apelaram à morte - por causa da fuga de documentos, que eles não souberam guardar, o que faz lembrar que o sistema de informações do EUA é uma espécie de saboroso queijo Gruyere. E uma série de jornais de referência internacionais, que resolveram acolher essas informações como verídicas e publicá-las.

Muitos desses jornais optaram por esta via panfletária porque eles próprios estão em crise, há muito tempo, e à procura de formas de reformular os seus conteúdos para recuperar públicos perdidos. Há dez anos não seria assim.

Outra questão interessante é que este desvendar de tantos segredos sensíveis acaba por deixar muitos países em muitíssimo pior estado que os EUA - e há quem já refira isso, como possível manipulação - veja-se o que se revelou sobre sobre os Estados comprados ou vendidos ao narcotráfico, a corrupção ao nível das cúpulas dos governos, as máfias que os controlam (Itália, Rússia, Marrocos, passando até por Moçambique).

O jornalismo tradicional vê-se agora confrontado com outra informação que nos faz perceber que não vinha já cumprindo o seu papel. Mas também constatamos que uma das mais valias do Ocidente liberal continua a ser a liberdade de imprensa e de informação. Ninguém imagina isto acontecer na China, na Rússia, no Irão, na Arábia Saudita ou até em Israel, sem que o seu autor não tivesse já sido morto, raptado, condenado ou desaparecido.

A internet transformou-se no palco dos novos conflitos sociais e são os jovens, de permeio muitos libertários ou anarquistas, quiçá unidos aos precários de todo o mundo, que mobilizam esta cena, como os estudantes que lutam em Londres, Paris ou Milão, a engendrar as novas respostas sociais que ultrapassam os velhos sindicalismos. Há ataques e há vinganças, encerram-se sítios de prestigio a mando de instituições governamentais e outros são fechados à força, por vingança, por piratas, por terem colaborado com o stablishement.

Vimos diabolizar/defender Assange como se diabolizam/defendem líderes políticos. Assistimos a ataques a instituições aparentemente estáveis, a diplomacia americana está firme mas vemos ataques ao euro, à comunidade europeia, aos direitos consagrados e até à soberania de países, como Portugal. Há uma "vontade de transtornar ou de destruir", enquanto outros falam mais no sentido "moral" .

O mais interessante está ainda por vir quando, como anunciado, o sítio começar a pôr a nu os negócios da banca americana, designadamente do banco central americano, todos eles fautores desta crise mundial que começou nos EUA .

Entretanto o jornal Crónica del Mundo, num trabalho de Daniel Estullin, afirma que o Wikileads foi infiltrado pela Mossad através de um académico americano e que muitos dos piratas que lá trabalham tiveram contactos com a KGB a quem venderam por alto preço segredos americanos em Berlim.

Gustavo Cardoso, investigador português de informação, diz no DN que a detenção de Assenge é a sua melhor estratégia.

Ele declarou ao Independent a 18 de Junho de 2010 que a CIA o procurava desde Março deste ano. Pode então perguntar-se porque se foi refugiar em Inglaterra sabendo que este país tem tratados de extradição com os EUA? Ele sabe que à CIA não lhe interessa matá-lo mas interrogá-lo .

Entretanto Lula e Putin condenaram já a prisão de Assenge. Lula disse, "o culpado não é quem divulgou, é quem escreveu" e Putin perguntou, "é isto democracia?"

Convém referir que Assange foi preso em Londres onde se entregou à polícia, na base de uma queixa de duas mulheres suecas por abuso sexual, que tem a ver com o bom, ou mau, uso do preservativo quando esteve com elas. Assenge afirma que foi sexo consentido. As queixas surgem num momento muito (in)oportuno e servem de pretexto para o homem ser enviado para a Suécia onde pode vir a ser julgado e até condenado.

A associação de direitos humanos Avaaz.org fala numa feroz campanha de intimidação contra Wikileaks e considera estas intimidações um ataque à democracia. Por isso quer reunir numa semana um milhão de assinaturas a favor de Assange e já conseguiu de 300 mil. Por todo o lado se fazem manifestações defendendo-o, ou ao seu sítio, dizendo que a questão é jurídica, na base da liberdade de informação, que se afirma uma das marcas de referência da nossa civilização.

Agora é certo: a luta continua!

António Serzedelo

Sem comentários: