Desde o inicio de Novembro que vão aparecendo nos meios de comunicação social sucessivas levas de economistas, políticos, empresários, banqueiros e jornalistas a solo ou em painéis emitindo as suas opiniões sobre a grave situação económica de Portugal.
Com complicados exercícios de deve e haver misturados com gráficos e termos meio esotéricos pretendem demonstrar ao cidadão comum que o país está a caminho da falência. Pelo meio referem-se quase sempre, com intenção pedagógica, ao caso da Grécia que está um ainda pior e se prepara para iniciar um processo draconiano de reformas.
Soa um pouco a estranho que gente tão bem informada se esqueça por completo do exemplo da Islândia. É que este também é muito, mas mesmo muito, pedagógico. Se não vejamos. A Islândia entrou em colapso financeiro em 2008 mercê da economia de casino que praticou durante anos. As suas gentes vivem hoje mergulhadas num dia-a-dia cheio de dificuldades pelas quais não são responsáveis.
Os dirigentes políticos que foram, esses sim, responsáveis pela falência da Islândia preparavam-se agora para ceder às pressões dos governos da Inglaterra e Holanda. e pagarem enormes indemnizações aos investidores destes dois países que viram desaparecer o seu dinheiro na roleta económica que foi a Islândia dos anos antes da crise. Mas os islandeses disseram basta. E exigiram um referendo para serem eles a decidir. Os islandeses preparam-se para se recusar a pagar mais por uma crise pela qual não são responsáveis. Por isso da Islândia ninguém fala. E percebe-se bem porquê.
Não convêm que os portugueses saibam e comecem também a ganhar a consciência que devem recusar-se a pagar por erros que não cometeram. Que ponham em causa o auxílio aos banqueiros arruinados por operações especulativas. Que comecem a questionar os ajustes directos e as derrapagens orçamentais de milhões que enriquecem as empresas de construção e ajudam a financiar partidos políticos. Seria perigoso se os portugueses começassem a questionar as Parcerias Público Privadas onde o estado sai sempre a perder ou que apontassem o dedo aos responsáveis pelo desnorte que grassa na Administração Pública e permite coisas como a emissão de cheques falsos pelo Ministério da Justiça.
Seria perigoso se os portugueses se recusassem a aceitar o encerramento de mais serviços públicos ou começassem a reagir à degradação inaceitável da sua qualidade resultante do garrote financeiro que lhes vem sendo imposto por orçamentos cada vez mais restritivos.
Seria de facto muito perigoso se os portugueses dissessem basta. Se recusassem a degradação das suas condições de vida. Aos doutos economistas, políticos, empresários, banqueiros e jornalistas que nos invadem as casas através da televisão, das rádios e dos jornais interessa antes que a crise pareça uma catástrofe natural de que ninguém tem culpa, que a todos atinge e à maioria vai impor ainda mais sacrifícios. É este o grande exercício de ilusionismo que nos apresentam todos os dias.
NOTA - retirado da lista tertulia_liberdade e recebido via APD, a quem agradecemos. O original não se encontra assinado.
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