segunda-feira, maio 04, 2009

Desfile trabalhadoras do sexo no 1º de Maio com as Panteras Rosa


Ontem foi bom e foi importante. Foi também uma estreia. Um grupo de trabalhadoras do sexo do Intendente foi por sua iniciativa própria ao 1º de Maio. Umas levaram as filhas, outras a voz e a garra. Sem grandes teses ou reivindicações sobre a profissão. Não é que não as vão já debatendo, e que não digam "queremos direitos". Não, mas antes disso e antes de mais, colocar o dedo na ferida do estigma e da violência, quer aquela a que se sujeitam nas ruas, quer a do preconceito social que fez pesados os olhares do público à sua chegada à Alameda. O estigma. A forma como são tratadas pelo Estado e pelos comuns de nós. Quanto mais não seja quando olhamos para o lado todos os dias, aqueles que não somos seus clientes. "Prostituição: Não ao preconceito, Sim, à pessoa.", era o que queriam dizer, e que também são trabalhadoras.

A mim fez-me lembrar as primeiras presenças de homossexuais, enquanto tal, nos desfiles da CGTP no 1º de Maio. 1992, a primeira vez, com embaraço público da central, hoje com outros olhos para a questão. Mas não conseguiram fazer-nos sentir aliens totais, e os olhares foram mudando.

Um pequeno grande passo, o destas mulheres. Que os seus passos ecoem. Que consigam um dia destes fundar a associação de que falam. Contem comigo.

No Portugal do sexo-insistentemente tabu e mal vivido, da discriminação, uma aliança, alguns dirão, contra-natura outros bizarra, entre um grupo lgbt, uma instituição religiosa católica, as Irmãs Oblatas, e um conjunto de trabalhadoras do sexo de uma das mais degradas zonas de Lisboa, trouxe à rua a denúncia da hipocrisia sobre a existência da prostituição, quer voluntária, quer recurso extremo, quer de mulheres, quer de homens, quer de transexuais, em tantos e variados contextos e diferentes situações, mas com tanta experiência comum. Uma aliança natural, digo eu, quando leio declarações da responsável das Oblatas a dizer que "se Jesus fosse vivo andaria a distribuir preservativos às prostitutas". Eu não diria melhor.

Tiro o chapéu a estas mulheres que ontem passaram desfilando frente ao seu local de trabalho e cumprimentaram colegas a partir da marcha, enquanto cantavam junto com os activistas do MAYDAY "hoje, 1º de maio, há precárias a trabalhar!".

sérgio vitorino

2 comentários:

WOLKENGEDANKEN disse...

Muito bem !! E quem teriam que ter cumprimentado sao os seus clientes que se tivessem tanta coragem como estas mulheres teriam de desfilar ao seu lado !!

Nao sou uma grande fa da religiao catolica, mas tambem tenho a certeza que o personagem historico de Jesus teria distribuido preservativos e nao só as prostitutas ....

Como sempre: obrigada pela informacao :))

Antonio disse...

É sempre benvinda!