terça-feira, março 04, 2008

Nem autoritarismo, nem social autoritarismo: independência pessoal!


No sábado, os professores do país apresentam-se em Lisboa, numa manifestação democrática, quando nas escolas – não por acaso – a democracia está a ser minguada. O Presidente já pediu contenção – avisado pela experiência carnavalesca da sua governação – e Fátima Campos Ferreira pediu mediação internacional.

Não é para menos: face às más notícias da nossa inserção na globalização e nas políticas europeias, já que não dá jeito reformar o Estado, quis-se reformar a sociedade. Pôs-se à bulha a população com os sindicatos, com os corpos especiais do Estado e com os funcionários em geral – os "privilegiados" – como nuvem de fumo para reduzir direitos na saúde, na educação, na segurança social, no acesso à justiça, nas garantias de liberdade e de privacidade. Os mais velhos derem o exemplo, e obrigaram o ministro da saúde, cheio de razão, a ir-se embora e entregar a pasta a uma colega crítica, que entretanto vai continuar a política que criticava. Os professores são a segunda leva de reclamação de fundo.

O bloqueio partidário da política, está feita a prova, não impede a emergência da política. Dá-lhe é uma urgência e uma irracionalidade que os países desenvolvidos aprenderam a tratar através de processos democráticos. Infelizmente, não é o caso em Portugal.

A democracia formal tem sido tomada como garantida e natural. Esta governação mostrou como as derivas anti-democráticas (anti-sindicais, pró-corrupção, anti-direitos-humanos, por exemplo) podem emergir de onde menos se espera, do partido das liberdades. É certo que os portugueses se deixaram embalar pela leveza do ser europeu e pelos brandos costumes, que são afinal um espírito matreiro de subordinação. É certo que também os professores preferiram adoptar a política da "nossa política é o trabalho". É certo que os sindicatos são um espelho de contrapoder, com os mesmos vícios de exclusão da discussão e da participação política dos partidos, a quem se referem. Também é certo que a Igreja de Roma se opôs à formação cívica para todos nas escolas e a formação pessoal e social – como a formação de adultos – jamais vingou em Portugal. Por isso, nem nas nossas reuniões de condomínios é possível acordar decisões razoáveis e sensatas, a menos que haja algum deputado ou outra pessoa importante na vizinhança em quem se possa descarregar essa responsabilidade.

Na hora da escolha, isso também se verificou, os portugueses escolheram a "evolução na continuidade" política desta república em crise, apesar dos votos independentes. O governo atirou-se contra as promessas eleitorais, na direcção da única ideologia bem estruturada – o neo-liberalismo – que também é a mais fácil: façam-se uns cálculos, avance-se a todo o vapor, que ninguém está preparado para reclamar.

Ora no sábado, dia 8 de Março, vai haver reclamações. É certo que lhe falta organização. Vai levar tempo a ter corpo. Mas, sem dúvida, os professores estão a mostrar o caminho: utilizam o espaço público com nervo, em nome da sua dignidade e da dignidade do país. É das melhores notícias ultimamente: é o equivalente ao 16 de Março de 1974. A brigada do reumático é o conjunto de todos aqueles que não compreendem o relatório da Sedes (Portugal e o Futuro dos dias de hoje). Quando chegará o êxodo dos reformados de luxo para o Brasil?

Com os melhores cumprimentos

António Pedro Dores

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