segunda-feira, abril 09, 2007

Posição conjunta contra o cartaz xenófobo do PNR no Marquês de Pombal

Associação da Comunidade Imigrante Romena e Moldava do Alentejo

MOURA - Portugal


Face à polémica desencadeada com a afixação dum cartaz de propaganda do PNR no Marquês de Pombal, em Lisboa, a delegação do Alentejo da Associação Solidariedade Imigrante e a Associação da Comunidade Imigrante Romena e Moldava do Alentejo decidiram emitir o seguinte comunicado conjunto:

Imigração só acaba com "o fim do mundo"

O cartaz do denominado PNR com os dizeres "Basta de imigração - Nacionalismo é solução", além de revelar a profunda ignorância e estupidez dos seus promotores, é de conteúdo claramente manipulador e integra-se na campanha xenófoba e de ódio racista da extrema-direita europeia, visando a reabilitação histórica do nazi-fascismo.

1. A história da humanidade confunde-se com a história das migrações que tiveram início há mais de 3 milhões de anos, provavelmente em África, onde foi descoberto o célebre esqueleto da pequena Lucy, da espécie Australopithecus afarensis.

Seja qual for o local e a época exacta, hoje não há dúvida de que o género humano teve uma origem comum e migrou através dos diversos continentes e mares, possivelmente de África para a Europa e a Ásia e desta para as Américas, pelo estreito de Bering.

Esta longa marcha ainda não terminou e é provável que ela só acabe quando a própria Humanidade se extinguir, isto é, com o "fim do mundo" - seja qual forem as suas diversas interpretações naturalistas, religiosas ou antropológicas.

2. A expressão "Basta de Imigração" é, em si mesma, mentirosa e ofensiva.

Mentirosa porque é unanimemente reconhecido o contributo indispensável dos imigrantes para o crescimento económico, a minimização da quebra demográfica e do envelhecimento populacional, em Portugal como em quase todos os países europeus.

E ofensiva não apenas da dignidade e dos direitos dos imigrantes, mas também para as dezenas de milhares de emigrantes portugueses que, todos os anos e em ritmo crescente, continuam a sair deste país, em busca de melhores condições de vida e de trabalho - exactamente o mesmo que os imigrantes de todos os continentes buscam em Portugal.

Nenhum decreto, nenhum governo, nem sequer nenhum império é capaz de parar esta pulsão migratória, tão antiga como a própria humanidade. Só mentes mesquinhas e perversas se lembrariam de escrever neste cartaz repugnante: "Façam boa viagem". Para onde, para um qualquer novo Auschwitz?

3. De resto, esta não é sequer uma medida isolada, mas apenas uma peça do programa do denominado PNR que pode ser consultado na Internet e propõe, entre outras medidas: alterar a Lei da Nacionalidade, recentemente promulgada e cuja aplicação ainda mal começou; terminar com as políticas de reagrupamento familiar ou "o reagrupamento familiar deve ser feito sim, no país de origem" - outra forma de defender a expulsão dos imigrantes; expulsar os clandestinos, fingindo ignorar que estes são vítimas da exploração selvagem de patrões sem escrúpulos; desmantelar os guetos; organizar o regresso dos estudantes estrangeiros e dos imigrantes, etc., etc.

4. Perguntamos: o que mais será necessário para o parlamento, o governo, o Presidente da República e os tribunais portugueses cumprirem e fazerem cumprir a Constituição da República Portuguesa, cujo Artigo 46.º, n.º 4, dispõe:

"Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista".

5. Perante o reeditar destas ameaças à Liberdade e aos Direitos Humanos, responsáveis pelo Holocausto e julgadas pela História após a II Guerra Mundial, exigem-se actos e não meras palavras.

Do parlamento e do governo português, em particular, esperamos que não protelem a aprovação de uma nova Lei de Imigração justa, moderna e tolerante, capaz de responder aos novos desafios de Portugal e da sociedade europeia.

Alentejo, 31 de Março de 2007

4 comentários:

Cláudio disse...

Andamos demasiado brandos com a ressurreição do fascismo...

Anónimo disse...

Os estrangeiros, porque se encontram em situação de fragilidade, aceitam qualquer trabalho com vencimentos e condições de trabalho impensáveis para qualquer português: chegam a trabalhar sete dias por semana, durante dez horas por dia, tudo isto por cerca de 400 euros. Assim, não há concorrentes nacionais para esses empregos. Poderia até dizer que é uma concorrência desleal contra os trabalhadores portugueses que poderiam ocupar esses trabalhos.

Mas porque eceitam estas condições de trabalho?

1.º) Estão num país estrangeiro e, como, já disse, numa situação de fragilidade. Estão também, em geral, inlegais e buscam a via da legalização através da obtenção de um emprego, necessário também à sua subsistência, mesmo que ao mais baixo nível.

2.º) Consideram esse emprego como temporário e o salário de qualquer trabalho aqui mal remunerado é muito superior ao que poderiam auferir no seu país, em virtude das diferenças de câmbio da moeda;

3.º) Os familiares e os amigos estão longe, não testemunham as condições de trabalho e os sacrifícios que têm que suportar, porque com um modesto salário português a sua sobrevivência aqui é muito difícil: Por isso, têm que viver em comunidades, amontoados às dezenas em apartamentos que se destinariam a uma só família.

4.º) Constituir cá família e ficar por cá nem pensar... Daí o cartaz dos "Gatos Fedorentos" no Marquês de Pombal ser bastante mais corrosivo do que o colocado pelo PNR.

5.º)O objectivo é o de amealhar o máximo de Euros, o mais rapidamente possível, e regressarem aos seus países de origem.

6.º) Quando regressarem poderão então converter o dinheiro amealhado na moeda do seu país e será então a altura de ‘começarem verdadeiramente a viver’ e de realizarem os seus sonhos: casar, ter a uma casa e a sua independência financeira.

Conclusão: Nós, que somos também um país de emigrantes, temos experiência disso: Não era isso que faziam muitos dos nossos cidadãos nos países para onde emigravam? os que iam ocupar empregos mais humildes! Sobreviviam e amealhavam o podiam, o mais rapidamente possível. Regressavam então a Portugal e realizavam o seu sonho, construindo a sua casa e a sua independência financeira, através da criação de um qualquer negócio: café, restaurante ou oficina? É claro que há sempre excepções..., mas disso não reza a história!

Portugal já tem uma taxa de desemprego alta e com tendência para subir, por isso, julgo inconveniente que a imigração para o nosso país continue a fazer-se de forma anárquica, como tem acontecido até agora.

Deverão ser aceites apenas os imigrantes de que Portugal necessite, para os empregos que não tenham mão de obra disponível no país, evitando com isso que o desemprego suba ainda mais. Também deverão ser devolvidos aos países de origem, todos os imigrantes que venham destinados à mendicidade, à prostituição e ao crime nas mais variadas formas.

É chocante ver o número de estrangeiros com crianças de tenra idade ao colo a pedir esmola nos cruzamentos das nossas cidades. Crianças que servem apelar ao sentimento e à compaixão dos automobilistas. Isso é também uma

Chapa disse...

Queria apenas corrigir o participante anterior. Nós continuamos a ser um país de emigrantes. Em 2006, os números oficiais consideram que saíram de Portugal em busca de trabalho, mais de 30.000 pessoas, mas as organizações que se encontram no terreno, falam em 100.000. É muita gente a sair de um país tão pequeno. A grande diferença com os anos 60 e 70 do séc.XX, é que, nesses tempos idos era a população rural e iletrada que fugia, hoje são jovens principalmente urbanos, muitos com cursos superiores.
De qualquer forma, neste momento, são mais os que partem, do que os que chegam. Aqueles que escolheram esta nossa casa para projectar o seu sonho, só temos a obrigação de os receber e acarinhar, tal como gostaríamos que acontecesse aos nossos irmãos que escolheram partir.

Unknown disse...

Concordo com o cláudio. E começo a ficar deveras preocupado. Coisas como estas deveriam ser consideras inconstitucionais.