quinta-feira, fevereiro 09, 2006

É possível: uma economia sem petróleo

A Suécia (9 milhões de habitantes) planeia estar completamente independente do petróleo dentro de 15 anos: a aposta centra-se totalmente no desenvolvimento de energias renováveis e exclui a construção de mais centrais nucleares.

O conhecimento de que as reservas de petróleo são limitadas, que em breve começarão a escassear, e que a subida do preço do petróleo provoca recessões económicas a nível global, não é uma recente descoberta sueca: até os governantes portugueses sabem isto. Mas os suecos vão para além da teoria, promovendo uma Comissão de Energia que reune académicos, industriais, agricultores, funcionários públicos, cidadãos em geral, a qual reporta directamente ao Parlamento Sueco. O objectivo: criar a primeira economia do mundo livre de petróleo.
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A economia sueca foi especialmente abalada pela subida dos preços do petróleo nos anos 70. Abaladas, foram de facto todas as economias, mas só a sueca reagiu no sentido de inverter a repetição do fenómeno: hoje a dependência do petróleo na Suécia situa-se sobretudo ao nível dos transportes; a electricidade já tem origem hidroeléctrica ou nuclear, enquanto que o aquecimento (e as casas suecas, ao contrário das nossas, são realmente quentes todo o ano...) é feito a partir de energia geotérmica e combustão de resíduos.
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Entretanto em 1980 um referendo (sim, os suecos votam estas coisas...) decidiu acabar com a energia nuclear, pelo que os dois grandes objectivos energéticos do governo sueco são a independência a prazo do petróleo, mas também da energia nuclear. E a solução passa por explorar os recursos locais. Os incentivos à indústria são também essenciais: por exemplo, neste momento o governo sueco trabalha com empresas como a Saab e a Volvo no sentido de que estas desenvolvam carros e camiões que circulem a a etanol e outros biocombustíveis.
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A importância de uma estratégia nacional para a energia é fundamental. Não só ao “escolher” as principais fontes de energia nacional, como ao promover o investimento individual dos próprios cidadãos. E esta promoção pode ser feita pela negativa (por exemplo taxando mais aquilo que vai contra os desígnios nacionais), ou pela positiva (por exemplo comprando excedentes de energia a produtores individuais). Peguemos neste último exemplo: a energia produzida por painéis solares tem obviamente picos a meio do dia e quando o sol é mais intenso: nessa altura um indivíduo com um painél solar no telhado produz muito mais energia que a que precisa. Mas essa altura coincide também com um pico no consumo geral da sociedade: é o momento em que escritórios e fábricas laboram. A coisa parece ter uma solução óbvia: o cidadão vende o excesso para a rede nacional, e a rede nacional fica toda contente por ter acesso a energia renovável na qual não teve que investir. Na Califórnia, ao contractualizar a compra de energia à rede nacional o cidadão pode determinar que uma parte tenha origem renovável (o que obriga logicamente à existência de um mercado para energias renováveis).
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Em Portugal os cidadãos que investem em energias renováveis por sua conta e risco são ludribiados por governos que fogem a compromissos (Santana Lopes anulou o preço fixo de compra de energia por parte da EDP) e que claramente não possuem visão de futuro (para Sócrates os nós de captação de energia na rede nacional estarão saturados até daqui a não sei quantos anos! Isto é, telemóveis e microsoft precisam dum choque tecnológico em Portugal, mas aumentar os nós de captação é um problema tão complicado que só daqui a anos...
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Nós não temos que imitar a Suécia: a Islândia está a apostar na alimentação de carros e barcos com hidrogénio, e o Brazil apostou no alcool produzido a partir da cana do açúcar. O segredo está justamente em apostar nos recursos próprios em vez de comprar os dos outros. E nós temos sol a rodos, vento, marés que nunca acabam...
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mpf

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