terça-feira, dezembro 06, 2005

Macro (?) microcrédito

Segundo o Jornal de Negócios online,

O Ministério da Economia vai lançar em Janeiro de 2006 um novo sistema de microcrédito no valor de 64 milhões de euros. Desenvolvido no âmbito do Plano Tecnológico, o Finicia vai financiar projectos até 100 mil euros e divide-se em capital de risco e garantias bancárias. O anúncio foi feito por Manuel Pinho, ministro da Economia, no encerramento da cerimónia de entrega dos prémios BES Inovação que decorreu esta amanhã no Pavilhão de Portugal.
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À primeira vista, emprestar dinheiro a pessoas pobres para criarem uma empresa ou para se auto-empregarem parece uma fantasia. A experiência mostra, porém, que é mais arriscado emprestar a ricos: eles são menos cumpridores nos pagamentos e os calotes são maiores. A ideia de que a iniciativa económica não é monopólio dos ricos surgiu num dos países mais pobres do mundo, o Bangladesh, onde M. Yunus teve a coragem (brilhante ideia?) de apostar na capacidade de gente pobre mas com iniciativa para, com um pequeno empréstimo, se lançarem numa actividade por conta própria que lhes permitisse saírem da miséria. Os resultados foram espectaculares: o Grameen Bank é agora uma grande instituição que tem lucros emprestando a gente paupérrima. O êxito da iniciativa estendeu-a a muitos outros países, e hoje há no mundo mais de 12 mil instituições que concedem microcrédito a 55 milhões de famílias, metade das quais viviam com menos de um dólar por dia.
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Em Portugal, mais de 481 empréstimos concedidos no sistema de Microcrédito, num valor global de 2,1 milhões de euros, traduziram-se na criação de mais de 561 empregos. A aparente fantasia tornou-se realidade. Mas estamos a falar de pequenas coisas. Embora pequenas coisas que podem conduzir a grandes mudanças na vida das pessoas. Exemplo? Um/a florista de rua que com algum dinheiro se consegue estabelecer num pequeno negócio de bairro.
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Ora esta notícia do Jornal de Negócios é muito estranha: é que, mesmo na Europa, créditos atribuídos pelo sistema de Microcrédito raramente chegam aos 25 000 euros! E mesmo estes valores pertencem já ao universo do Microcrédito Empresarial, o qual é uma excepção à ideia inicial que, para demarcação, se passou a designar como Microcrédito Social. Até porque é difícil acreditar que alguém que precisa e obtém 100 mil euros de empréstimo não o consiga obter pelas vias tradicionais... Porque esta é uma das características que sempre diferenciou o Microcrédito: um sistema que servia pessoas que não conseguiam provar a sua mais-valia no sistema bancário tradicional. Segundo os dados disponibilizados pela Associação Nacional de Direito ao Crédito, os microcréditos atribuídos até ao momento em Portugal pouco passavam dos 4 mil euros por projecto. E o limite agora de repente passa para 100 mil?? Qual será a ideia do Ministro?
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mpf

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