Em 2002 fui dar aulas para Timor. A experiência foi extraordinária e muito positiva, mas isso não me impediu de identificar uma série de falhas no programa de cooperação: claro, entrei numa lista negra de onde nunca mais saí. A minha principal crítica dizia respeito ao modo como o português estava a ser ensinado: os meus alunos estavam no 4º ano duma licenciatura ao longo da qual tiveram aulas diárias de português e, contudo, a maioria não entendia nem sabia exprimir-se nesta língua. Foi-me dito que não podia colocar em causa a qualidade de colegas honestos e empenhados: como é tradição em Portugal, a eficiência mede-se pela honra do agente, e não pelos resultados da sua actuação.
Os ditos resultados só podiam (oficialmente) ter uma explicação: os timorenses não conseguem mesmo aprender. Devido às circunstâncias, poder-se-ia pensar que se tratava de uma atitude paternalista e colonialista. Mas penso que é apenas a vertente “cooperação” da atitude nacional: também nas escolas portuguesas a geração rasca expiou as culpas dos contumazes maus resultados.
Entre os meus alunos, a E. atribuí a nota 9 (de 0 a 20). Com um 9 já passava, mas não lhe dei um 10 porque ela mal conseguia responder a um exame escrito, e uma oral... nem pensar. E. está agora em Cuba, a estudar medicina. Estudou espanhol durante 1 ano em Díli (2004), e agora fala (e escreve emails) em espanhol fluente. Há 600 (!) timorenses a estudar medicina em Cuba.
Fiquei curiosa sobre o método de ensino de línguas cubano. Chama-se então Yo sí puedo, e é um programa expedito de ensino que pretende acabar com o analfabetismo no mundo inteiro (1/3 da população mundial, segundo a UNESCO).
Pela amostra, não duvido! Entretanto o primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, que esteve recentemente de visita a Cuba, propôs-se a Fidel Castro traduzir os manuais do tal método para português. Esta tradução, aparentemente, irá ser feita por professores brasileiros que se encontram em Timor.
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Em suma: não nos precisamos preocupar mais com a aberrante taxa de analfabetismo que ainda existe em Portugal! Brevemente teremos acesso a “Eu sim, consigo”, um método de ensino inventado por cubanos e traduzido para português por brasileiros pagos por timorenses! Iremos fazer parte do milhão de pessoas de 20 países diferentes que já aprenderam a ler à conta deste método...
mpf
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