terça-feira, agosto 30, 2005

Que faria para melhorar Lisboa?

(Opinião de António Serzedelo, em entrevista ao PÚBLICO)

Até às eleições autárquicas, personalidades de várias áreas apresentam soluções para fazer de Lisboa uma cidade melhor.-"Publico"-pag. 46 Poder Local

1. -O que faria para melhorar Lisboa ?
Lisboa, precisa de um novo Pombal, desta vez com a visão de uma sociedade globalizada, que seja capaz de a tornar uma cidade competitiva no contexto europeu, e cosmopolita do ponto de vista cultural. A (in)gerência anterior teve da cidade uma visão neoliberal, populista, de carros, betão, negócios mal esclarecidos, empresas municipais desgovernadas, desrespeito pelo espaço público, urbanismo, e jardins, ornando-a numa cidade pacóvia, sem valorizar a sua história, sem política arquitectónica, tão necessária a uma capital. Lisboa, agora, precisa de um projecto cultural forte, de criatividade para liderar eventos culturais de vária índole, a acontecer regularmente, para que os lisboetas se sintam neles implicados, e nos tragam estrangeiros, como fazem as capitais europeias.Prevejo para esta cidade uma gestão transparente, laica e republicana, que impulsione a Cidadania e a participação cívica, para acabar com a marginalização, alienação, exclusão social, que levam à falta do sentimento de pertença, enfim, à marginalidade e à insegurança. Lisboa é uma cidade feita de muitas minorias a precisarem de ser respeitadas, integradas, através do novo modelo de gestão e governo, congregando bairros e freguesias em novos distritos urbanos, capazes de responder às novas exigências, com novas competências, como foi feito em Paris e Barcelona. Ela tem que ser sobretudo pensada no feminino, para dar às mulheres que nela circulam igualdade de oportunidades, com políticas de "empowerment". Por isso, é muito importante que os candidatos apareçam na campanha com mulheres a apoiá-los. As lisboetas desempenham já diferentes papéis no nosso espaço urbano. Além do desempenho no emprego, têm de cuidar da família, às vezes de dependentes, até deficientes. Há que pensar nestas diversas situações quando se pensa na organização dos transportes públicos, nos horários comerciais, na iluminação de espaços, nos tempos/locais lúdicos, ou de lazer, nas barreiras que se criam, e até para sua segurança.

A capital precisa de dar respostas às ansiedades dos jovens que lhe dão vida, na compra/aluguer de habitação, emprego, lazer, desporto, escola, sexualidade, DST, mas sem por isso esquecer o apoio à terceira-idade, a precisar de mais mobilidade, e facilitação de acesso aos serviços que precisa.Mas Lisboa também é dos gays. Eles querem ver apoiados os seus eventos, trazendo-os para a centralidade e visibilidade urbanas, sejam festivais, cinema, teatro, exposições, marchas, arraiais, ou um programa de rádio lgbt, encorajando-os a uma cidadania activa, através de "Gabinetes contra as Discriminações", dialogando com as suas ONG`s, lutando contra a homofobia. O nicho de mercado do Turismo Gay tem de ser bem trabalhado. É um valor acrescentado à riqueza da cidade. Penso que alguém na câmara, deva ser o elo dialogante com as minorias. E porque não criar um espaço-ninho de ONG´s que impulsionem a Cidadania?Lisboa tem de expulsar os carros para a periferia, não os gays, nem os idosos, nem os pobres, à custa de políticas urbanas guetizantes, como a do actual Código das Expropriações, das Leis dos Solos e das empresas municipais, que são uma declaração de guerra às populações socio-economicamente mais debilitadas dos bairros históricos onde pretendem intervir.

2.-Qual o candidato que melhor corresponde a esse ideal ?
As três candidaturas à esquerda coincidem nas denúncias dos desmandos desta câmara. Como cidadão activista e independente, subscrevo-as. Constatando certa seriedade, individualista, caritativo-eclesiástica e chique, misto Louis Vuitton/Channel nº 5, na candidata Nogueira Pinto (CDS), que ainda nem reconhece dimensão política às questões lgbt, acho que Manuel Carrilho é quem melhor pode preencher estes requisitos, pelos compromissos públicos já assumidos e pela sua dimensão intelectual e capacidade organizativa, que fazem dele o homem de futuro de que Lisboa precisa.

Antonio Serzedelo

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