sexta-feira, junho 17, 2005

Manuel Maria Carrilho

Entendo as benesses de se ser presidente da maior autarquia do país: o estatuto social, as mordomias, o trampolim para outras esferas... Mas em muitos aspectos deve ser uma seca monumental: reuniões cinzentas diárias, uma corte de gente que incluirá muitos imbecis lambe-botas, as cerimónias com patéticos discursos – os que por inerência se têm que fazer e os que se têm que ouvir!, etc. Para uma pessoa com o perfil do Pedro Santana Lopes, tudo isso são pequenos pormenores que ladeiam a passadeira vermelha: ele devia ignorá-los, quiçá dormia com os olhos abertos nas reuniões mais áridas, sei lá, ele deve ter estratégias pessoais para ultrapassar todos esses piquenos inconvenientes. E a verdade é que ele, PSL, parece ter nascido para aquilo, as partes do cérebro não sintonizadas no cargo político não devem ser utilizadas para mais nada, não consomem energia, não se batem por um espaço próprio.

Mas o Manuel Maria Carrilho?... Goste-se ou não dele, o homem é um intelectual, um filósofo. Curricularmente, ele não tem certamente perfil para o cargo (que ideia terá ele das necessidades de saneamento duma metrópole? Da segurança? Do trânsito?..). Claro, há toda a corte de assessores, mas há que ter uma visão estratégica global própria que não pode resultar da soma das partes do que cada assessor defenda... Eu até imagino que o exercício de “pensar a cidade” seja muito estimulante. Mas sê-lo-á para alguém que tenha um sentido prático (nunca um filósofo) e conhecimentos mínimos de ordenamento, já que a gestão duma metrópole é extremamente complexa. Se não, arriscamo-nos a que ele “pense” os aspectos culturais da Capital, deixando o resto da gestão nas mãos das tais pessoas que nunca sabemos quem são e que, necessariamente, puxarão cada um a brasa à sua sardinha...

Mas o que me leva a escrever isto não é a falta de perfil de MMC para gerir uma cidade. É, confesso, a perplexidade de ele “querer” candidatar-se! Como é que ele pode sequer considerar (tendo muitas alternativas com certeza mais estimulantes) desperdiçar o seu tempo (a sua vida, porque só temos uma!) com a burocracia e guerrilha autárquica? Para além das tais ocupações de seca, as suas leituras passarão a ser relatórios sobre as Festas da Cidade... E os problemas a resolver deixarão de ser metafísicos para adquirir a cruel realidade dos rebentamentos das condutas dos esgotos que é preciso esconder... Tudo isto me deixa muito intrigada.

Diz o seu site que “o que suporta e aprofunda a democracia não é a informação, é o debate”. Amigo, não podia estar mais de acordo! Mas o seu lugar então é no Parlamento, não na gestão autárquica onde sim, tem mesmo que lidar com informação, onde sim, tem que prestar informação a quem o elegeu (se...). No Editorial do site, MMC diz que “estar em linha pode não significar estar em acção”, mas que “só está em acção quem estiver em linha”. Não percebi. Isto terá que ver com os patins em linha, alguma piada que me ultrapassa (isto de eu não ver tv...)? Mas não lhe conheço sentido de humor... Será pura filosofia?...

mpf

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