quarta-feira, abril 06, 2005

LÉSBICAS NO III REICH

LÉSBICAS NO III REICH: SER INVISÍVEL OU DESAPARECER

Este ano, uma grande parte da Europa está a celebrar o 60º aniversário sobre a libertação da ocupação Nazi. Por esta ocasião muitos livros novos, análises e biografias estão a ser publicadas para manter viva a memória. Porém, uma página da história deste período negro permanece por contar, aquela do destino reservado às lésbicas na Alemanha no período 1933 – 1945. Muitos têm ido ao ponto de afirmar que as lésbicas não foram vítimas do regime Nazi. Estas afirmações parecem absurdas quando se leva em conta o facto de a homossexualidade ser considerada um defeito pela ideologia nacional-socialista e que muitas mulheres que não mantinham as suas tarefas tradicionais de casarem e ter filhos de forma a perpetuar a raça Ariana pura serem consideradas suspeitas. A ausência concreta de documentos, cartas, e testemunhos públicos constituem um sério desafio para aqueles que pretendem esclarecer o assunto. Quase sozinha nesta tarefa está a investigadora alemã Claudia Schoppmann. Devido à falta de história escrita, ela teve que recorrer a testemunhos individuais para juntar a história e manter a memória viva.

Um dos seus livros “ Zeit der Maskierung Lebensgeschichten lesbischer Frauen im Dritten Reich ( Dias de Mascaradas: Histórias de Vidas de Lésbicas no III Reich ) é uma comovente colecção de narrativas que relatam as opressões sofridas por lésbicas sob Hitler. Estas histórias relatam uma efervescente e eufórica atmosfera lésbica nos anos 20 em Berlim, a cidade casa de uma impressionante quantidade de bares, clubes, associações e revistas direccionadas a lésbicas. Apesar disto, esta vivacidade enfrentou ataques lesbofónicos violentos. De 1909 em frente, o governo tentava incluir mulheres polémico parágrafo 175 que criminalizava actividade homossexual entre homens. Mais tarde, durante anos, profissionais de lei Nazi, criminologistas e teóricos vão manter a pressão para incluir as mulheres no parágrafo 175. Para estes teóricos, o lesbianismo é uma ameaça à pureza racial e uma maneira de afastar mulheres dos homens e de dissociá-las da instituição do casamento.

Porém, por umas quantas razões diferentes o lesbianismo nunca será incluído no parágrafo 175. Primeiro, na sociedade alemã da altura, as mulheres eram excluídas de importantes posições políticas e administrativas; a sua influência não é portanto temida. Segundo, de acordo com relatórios médicos do final do século XIX, a homossexualidade feminina não é necessariamente contrária ao desejo de casar e cuidar da família. Esta última teoria reconforta a ideologia Nazi que mantinha que a homossexualidade era uma doença que podia ser tratada e a ideia que a homossexualidade podia estar largamente disseminada pela Alemanha certamente não estaria de acordo com a sua concepção de uma “raça pura mestra”.

Finalmente, relações ‘intimas’ entre mulheres são um assunto do dia a dia, identificar quais entre elas eram de natureza sexual seria simplesmente muito difícil. Era então considerado que a melhor maneira de evitar o alastramento da ‘epidemia’ era manter o assunto no silêncio e oprimido. Era por esta razão que as lésbicas escapariam ao destino dos homossexuais sob o regime Nazi: 50000 deles seriam condenados pelo parágrafo 175, e entre eles 15000 enviados para campos de concentração, 2/3 dos quais jamais regressariam. Porém o silêncio à volta da temática lésbica desta época não nos permitem calcular até que ponto elas eram perseguidas nem descartar o seu sofrimento.

Boletim -da ILGA-World -N York.
Tradução de Carlos Carrilhas-Opus Gay

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