sexta-feira, novembro 12, 2004

Ecos do FSE III

O Activista está ele próprio a tornar-se global e a utilizar as armas do inimigo. O sentimento de guerra parece ser generalizado, apenas as armas utilizadas são diferentes de outrora, nomes como Socialist Resistance ou Globalise Resistance [www.resist.org.uk] aparecem com frequência na internet e nas manifestações. O vídeo digital tornou-se uma arma política pronto a disparar em cada mochila. Os campos de apoio fragmentam-se: de um lado, os adeptos incondicionais da não violência como princípio, das manifestações ordeiras e que tentam, dentro do sistema, propor e criar grupos de pressão para que se implementem as medidas que consideram consonantes com aquilo que defendem; do outro, aqueles que acham que as manifestações já não servem para nada, nem as denúncias. Que os tempos são de guerra aberta, que, deste sistema não querem nada e pouco se aproveita, que temos de começar de novo. Chamar-lhe-ia de Integracionistas e Revolucionários. Nestes últimos, surge um nome , ligado ao movimento do primitivismo, que ganha adeptos, John Zerzan [www.primitivism.com/zerzan.htm]. Uma bolha prestes a rebentar...

Segundo Seminário: os Foruns Sociais Locais. A profusão de línguas é ainda maior. Há que dar o mérito aos Babels (voluntários que realizam a tradução simultânea dos Foruns Sociais – www.babels.org). Denoto o mesmo problema: fala-se muito, habitualmente cada um sobre o “seu quintal”, mas depois falta a parte activa da questão. A maioria das pessoas/associações/sindicatos faz, de alguma forma, um esforço para estar presente e espera, julgo, fazer algo mais do que ouvir as apresentações “de quem somos”. Também é importante, mas hoje em dia com a Internet, podemos ter acesso a essa informação sem ter de atravessar a Europa ou o Atlântico. No espaço reservado para opiniões dos presentes (no público) a questão torna-se ainda mais preocupante. Os mesmos discursos inflamados, cassetes gravadas orais, sem qualquer ligação ao tema que estava proposto e com a tónica dominante “no meu quintal”. Cheira-me a intromissão partidária (as tácticas e a forma de discursar são as mesmas) e os sorrisos, apertos de mão e jornais que distribuem no final não deixam margem para dúvidas. Mais uma vez, estão associações presentes que, mais não são, do que megafones infiltrados dos partidos. Assim não vamos lá. Temos que saber ligar “os nossos quintais”. Nem todos os partidos são iguais é certo, pelo menos enquanto são pequenos. Quando começam a subir muitos degraus, já muitas concessões se fizeram. É pena. O Forum, enquanto espaço alternativo de discussão, arrisca-se a ser saqueado dos seus propósitos e aquilo que tinha de novidade, a lufada de ar fresco que concedeu a algumas áreas da sociedade civil, abafada ou eliminada. A ideia é apetitosa e o exemplo europeu é muito diferente da América Latina, no que diz respeito à relação entre partidos e movimentos sociais “civis”. O Forum nunca pretendeu o poder, “apenas” pretende mudar o poder e a forma dos partidos e empresas agirem. Implementar uma cidadania activa, real. Algo que os partidos, esventrados de apoio minguante, pretendem deitar a mão. Se o fizerem, arriscam-se a ficar a falar sozinhos. Veja-se um pouco o caso português. Para isso têm o Parlamento. Ouvi dizer que em Porto Alegre as coisas são diferentes. Aguardo com expectativa.

Gonçalo (PédeXumbo)

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