Comentário da Opus Gay a uma entrevista a MIGUEL VALE DE ALMEIDA.
Na ”Pública” de 19 de Setembro, o Prof. Vale de Almeida (VA), militante do BE, e militante gay, dá uma interessante entrevista (UMA ENTREVISTA EX CATEDRA), (parabéns ao entrevistado e à revista!) levantando-nos, contudo, algumas questões...
Diz VA que o nosso PS devia pôr os olhos no PS espanhol. De acordo!
Mas vejamos as diferenças que não podem ser esquecidas, nem escamoteadas, e nos separam, onde as responsabilidades não são só do PS. Muitas são nossas, e até dele (VA)!
Em Espanha há um grande movimento social que se manifesta nas ruas, com manifestações pelo Orgulho Gay que levam 1 milhão de pessoas. Em Portugal, nós pomos 500 a 2500 pessoas na avenida, com pouca representatividade social. Em Espanha há dezenas de associações lgbt - que, aliás, trabalham todas -, bem com o PSOE, através de um Federação, a FELGT,e que há muito o vêm sensibilizando, através de militantes ou simpatizantes, para estas questões. Em Portugal, pouco preocupados com os interesses e opções diversificados dos nossos companheiros de orientação sexual, as associações estão há muito subordinadas a uma actuação partidária estricta, fazendo com que estejam condicionados os contactos dos grupos com o PS, ou até PCP, e que quem os possa promover seja mal visto, e até considerado “traidor”. Personalidades heteros, que muito nos apoiaram, são ignoradas/criticadas, se forem da área PS. Veja-se o caso de Joao Soares, a quem o movimento lgbt muito deve, incluindo a associação a que VA pertence, que lhe deve o seu património - espaço-sede, a sua festa maior, anual, o Festival de Cinema gay , e outros apoios, e para quem nunca houve uma palavra de agradecimento, mas houve sempre críticas, para evitar a sua re-eleição. Encorajante!
Em Espanha há sindicalistas e centrais sindicais que apoiam uma agenda para a diversidade. Entre nós, só agora a CGTP e UGT começaram a sensibilizar-se para este problema. Em Espanha existe um mercado enorme, incluindo de turismo, que trabalha em sintonia com o movimento associativo, ainda que independentemente.
Em Portugal não temos mercado lgbt associado ao movimento gay, mas um mercado oportunista que só o explora, situação nunca desmascarada, porque abrem o bar em certas festividades, trazendo-lhes dinheiro, enquanto o turismo lgbt tem sido mal visto pelos mesmos, sob o pretexto de que os “gays pobres não podem viajar!”, misturado com muitos “Abaixo o capitalismo!”. A Espanha tem muitas revistas, até de distribuição gratuita, algumas de referência, como a “Zero”, que defendem estilos de vida, e não militâncias. Em Portugal, as que temos, por ora, ainda são paroquiais, dada a sua fraca distribuição, periodicidade, e temas que discutem.
Em Espanha temos uma ampla agenda diversificada conforme as regiões, que tem convencido muita gente, para além dos gays, inclusivé da área conservadora. Em Portugal, promove-se a “unicidade” do discurso, não se pretende negociar uma agenda mínima com os interessados, mas impôr uma agenda maximalista, começando a construir a casa pelo telhado, dando prioridade às adopções e aos casamentos gays, (que são um direito indiscutível, mas que dificultam o diálogo), em vez de outras prioridades, como uma simples lei contra o sexismo e a homofobia, promovendo-se até a exclusão de quem não concorda, ou, simplesmente, manifesta dúvidas.
Finalmente a Comunidade Europeia tem uma ampla agenda “pela diversidade, contra a exclusão”. Só que os ultra bloquistas lgbt, que nao gostam da CE, não compreendem como seria importante uma convergência estratégica nestes pontos, para fazer avançar a nossa causa...
Em suma, há entre nós e o caso espanhol grandes diferenças de contextos, que não favorecem quem no PS português queira apoiar a causa lgbt. TEREMOS QUE ESCOLHER ENTRE PROCURAR ALIADOS, E ALIMENTAR INIMIGOS. No resto, caro VA, estamos substancialmente de acordo. Mas o que escrevi já dá para uma excumunhão, ex-catedra,”urbi et orbi”.
António Serzedelo,
Opus Gay
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