sexta-feira, agosto 27, 2004

DE ABERRAÇÃO EM ABERRAÇÃO, ATÉ À SOLUÇÃO FINAL!

Maria Filomena Mónica, MFM, é uma historiadora, cujos textos geralmente aprecio, ou que, pelo menos, me fazem pensar. O seu último artigo para o “Público”, um jornal de referência, Zé Maria, Nádia, e o Big Brother” que quase podia subscrever integralmente, até porque, sem ser snob, também sou daqueles que pouquíssima televisão vê, causou-me um espanto, e uma perplexidade que não posso calar.
Nao posso calar quando chama a um ser humano, publicamente, de forma acintosa, insultuosa e degradante, uma “aberração da natureza”. Não posso calar em nome da Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Constituição Portuguesa, das mútiplas Directivas e campanhas Comunitárias, contra a exclusão social, trans incluídos, das regras básicas de humanismo, do Livro de Estilo do próprio jornal, em nome das ideias de que me reivindico, e até do ideal Cristão.
Habituei-me a que se chamassem “aberrações da natureza” aos vitelos de duas cabeças, os borregos de seis patas, uma couve de 20 quilos, dos lados do Entroncamento.
A seres humanos, em pleno século XXI, em Portugal, não esperava ver esse epíteto aplicado, sobretudo, por alguém com responsabilidades sociais, qualquer que fosse a razão, e, ainda menos, só por ter vencido um concurso pateta de televisão, num confronto público transparente, num país estrangeiro.
Porém não posso deixar de lhe recordar, dolorosamente, que foi em nome dessa “aberrância” que muitos homossexuais foram condenados à morte pela fogueira, depois a campos de concentração nazis, em alguns países ainda são decapitados, e no caso da transsexualidade, no passado dia 17 de Agosto morreu na Argentina, a transsexual Lorena Calixto, sem tratamento hospitalar, e há quatro dias, tive de enviar um e-mail de protesto para o Governo Argentino, porque tem presas sem culpa formada, desde 10 de Junho, Diana e Johana Sacayan, por liderarem o movimento transsexual do seu país.
O seu texto insulta todos @s transsexuais, que assim nasceram, em Portugal e em toda a parte, que não o são por gosto, ou por opção, dado o enorme sofrimento porque passam, porém, sobre isso quem lhe deve dar melhor dar testemunho, pois eu não sou transsexual, embora me sinta tão ofendido com o seu texto, como se o fosse, é a associação “@t” d@s transsexuais portugues@s. O seu texto, apela à exclusão, incita ao ódio e ao desprezo social.
O seu texto aberrante, alimenta estas discriminações, e de aberração em aberração, chegamos à discriminação total.
Por isso, venho defendendo que Portugal precisa de uma lei contra o ódio homofóbico, e contra o sexismo, como a conservadora França, já está em vias de produzir, para impedir casos destes.
Mas M. F. M não está só. Há pouco tempo foi a vez de outra “individualidade”, apelando-se da psicologia, de seu nome célebre, Villas Boas, vir também dizer que uma lésbica, não é uma mulher na verdadeira acepção do termo. Mais uma aberrância!
Outros ilustres académicos de formação marxista ou dita de esquerda ignoram a nova realidade que os circunda, talvez ainda formados no espírito estalinista, e com eles muitos intelectuais, que analisam a sociedade por grelhas pré-formatadas, tem sérias dificuldades em lidar com estas questões da diferença, da diversidade, que são a nossa riqueza, dos Direitos Humanos reivindicados pelas minorias sexuais, e que são afinal, uma luta cívica que importa a todos, heteros ou homos, como a luta das mulheres, importa tanto às mulheres como aos homens, ou luta anti racista, aos brancos e negros.

A Revolução social e política levada a cabo entre nós a partir de Abril 1974, que iniciou a chamada 3ª vaga de revoluções, e que leva à nossa entrada na Comunidade Europeia, a muitas importantes conquistas sociais, (algumas em vias de se perderem), mal deixou espaço para a sexualidade, mas a maioria dos intelectuais e académicos portugueses, agarrados a uma visão estática e reaccionária da sociedade, nem uma palavra tem querido gastar com estas questões, muito menos sobre os novos direitos sexuais, que essa terceira vaga de revoluções democráticas veio dar à luz, e que em outros paises, começou a dar frutos, como é o caso Espanhol.
Helás!Entre nós, os intelectuais homens continuam à procura de uma “mulher” que já não existe, e as mulheres intelectuais de um “Homem” que está para nascer.

António Serzedelo
Opus Gay

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