Gostei de ler no Público de hoje (8/7/04) o “maravilhoso” artigo que o Dr. Pacheco Pereira fez sobre um seu possível parente. Aliás, poderia ser de um parente de cada um de nós – desde que tivesse ascendência alentejana, por isso quando digo que poderia ser um parente do Dr. Pacheco Pereira sê-lo-ia muitíssimo afastado, claro! (pois penso que ele é um “homem do norte”, mas como falamos todos a mesma língua e ele se mostra tão católico-cristão, no artigo, presumo que também os alentejanos sejam por ele vistos como irmãos, sejam mesmo os irmãos do Sul).
Mas por que é que gostei de o ler? Porque ele retrata o português que está na mente dos srs. Drs. Pachekos deste meu “pobre País”. Tal retrato só foi possível porque estamos em crise, segundo alguns. Se os drs Pachekos acham que é assim o comum dos portugueses o que é que andaram e andam a fazer na política portuguesa há tanto tempo? Afinal são políticos ou analistas? Para verem o óbvio não precisamos de políticos, precisamos de políticos para nos resolverem os problemas óbvios. É óbvio.
Obrigado srs. Drs. Pachekos por nos lembrarem que não estamos só agora em crise, mas que a crise é o estado normal da nossa sociedade. A questão é saber porquê. Eu penso “de que” o problema radica na prática política dos nossos políticos, pois àquilo que se costuma chamar em Portugal “crise” não passam de momentos de normalidade democrática, e àquilo que chamam normal é na verdade a “crise crónica” de que nos fala o sr. Dr. Pacheko.
Ainda bem que há “Crises” pois é o momento em que os portugueses podem viver a sua normalidade democrática, em que vêem o que está bem, menos bem, menos mal e mal. Assim, no momento da “crise da justiça”, que não sei se já passou, descobriu-se que havia muita prisão preventiva, muitas escutas, muita coisa que não devia existir, acompanhado de um manancial de opiniões meramente “opinativas” (é de propósito o pleonasmo), mas teve a virtude de dizer aos portugueses que a justiça que eles pensavam normal estava há muito em crise, e continua. Só não esteve em crise quando se pensa sobre ela.
Naquilo que se chama “crise política” acontece o mesmo. Então os portugueses não sabem, se não sabem deveriam saber, que não se vota para Primeiros Ministros? Então só agora no “momento de crise” é que se lembram disto? Então, tal como eu digo estivemos em crise permanente até agora.
Será que queremos um regime “Primeiro Ministrista”, então e como se elegem os legisladores? Como se elege a Assembleia da República? Bem sei que para muitos ela nem deveria existir, mas isso é conversa para outra crise – não se lembram das votações que lá houve em que até os ausentes queriam ter votado devido ao acordo de cavalheiros que existia por lá – eu quando soube disso dei pulos de alegria, pois percebi que não eram precisos tantos Deputados da Nação e que bastaria um só Deputado por cada partido representando, com a sua devida “permilagem nas bancadas” - claro, todo o cidadão que no seu partido votou. Talvez com o regime “Primeiro Ministrista” isto venha a ser possível.
Uma coisa é verdade, as pessoas sempre pensaram que votavam para o Primeiro Ministro, quando de facto não era verdade, mas como um mentira tantas vezes repetida se torna verdade, aqui temos que a crise não é de agora, mas que já vem de longe. De quem é a culpa? Dos Pachekos deste “pobre País”, ou seja, dos políticos que querem mostrar ao eleitor um regime político que não têm, que não querem ter, mas que serve para lhes dizer que estão em “crise” quando estão em período normal, e dizer-lhes que tudo está normal, quando na verdade tudo está em crise.
De crise em crise se evolui. Vivamos este momento de normalidade democrática em pleno. Do esclarecimento (da crise dos políticos) nasce a verdade, da “normalidade dos políticos” não nasce nada, tudo fica na mesma, e de nada valem as “crises”.
Vivamos a crise como ela deve ser vivida em democracia, com respeito pelas instituições e pelo sistema político vigente, agrade ou não, é o que temos, se quisermos outro temos que o exigir aquando de eleições legislativas e constituintes. Seja qual for a decisão do Sr. Presidente da República deve ser respeitada, seja em nome da “crise” ou da “normalidade”.
Ps.: Claro que este texto não passa para a LUSA, pois o seu digníssimo director, que tem mostrado nos comentários televisivos tamanha isenção sobre este momento de crise, não pode partilhar destas ideias. Aliás, não será a sua isenção fruto do “tacho” que tem por nomeação? – Também tenho o direito à dúvida, não? É a crise! Toca a todos.
José Cordeiro
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