Como cidadão eleitor começo a ficar deprimido com o palavreado dos candidatos ao Parlamento Europeu.
Parlamento é o local onde se “parla” i.é.: se fala, penso eu “de que...”. Assim sendo não é caso para nos preocuparmos, diz-me um amigo, pois além de poderem falar por lá, ainda podem, também por lá, continuar a “peixeirar”. Eis uma das grandes vantagens de sermos um país periférico, eles andam com conversa da treta lá longe e raramente cá chega aquilo de que eles “parlam”. Abençoado PE – Não querem lá os nossos políticos todos?
Mas continuo deprimido.
Não gosto nada de ver políticos (os que vivem e agem na e pela POLIS) – a não ser que o não sejam – em discussões de “disse que disse”, “não lhe admito isso”, “exijo um pedido de desculpas”, “ não entro nesse tipo de fazer política” e outras, que até me repugna pensar que foram proferidas por “gente” que tem responsabilidades sociais e políticas, nos quais milhares de portugueses depositam o seu quinhão de esperança.
Há questões importantes para serem discutidas nesta campanha eleitoral e que vejo serem passadas ao lado, tais como:
Que vamos ceder, no que diz respeito à nossa Soberania, em relação ao “(P)Acto Constitucional Europeu” que se avizinha?
Como se articulam tais princípios constitucionais com a nossa “Constituição da República”?
O cidadão sabe que quando vota para as Legislativas está também a votar para a possibilidade de “revisões constitucionais”?
É possível nesta legislatura fazer as alterações à nossa Constituição de modo a adaptá-la ao (P)Acto Constitucional Europeu?
Se sim, aquando das legislativas o eleitor foi devidamente informado destas presumíveis alterações?
Se não é possível fazer tais alterações quando é que o povo português será chamado para tal “acto constituinte”?, Parece que não se pode pôr esta questão, pois o povo português não deve ser chamado a estas questões, por isso os nossos políticos do “pacto de regime” conduzir-nos-ão a bom-porto. Os da “mais direita” e da “mais esquerda” estão fora do pacto, mas isso pouco interessa em democracia – que apesar de parecer ser o regime onde devem ser defendidas as minorias, elas são na verdade e por estas bandas cilindradas.
Terá o nosso Parlamento legitimidade moral/ética para fazer alterações à Constituição que não foram sufragadas explicitamente pelos eleitores?
Nestas circunstâncias os dois maiores partidos terão de estar em conluio para a revisão constitucional, e estão. Estão-no com aquilo que um dos candidatos chama “pacto de regime”.
Por isto sou levado a pensar que a campanha é o que é porque tem que ser assim. Deitar balões e dizer “Ó patego! Ólha o balão”.
Devo apelar ao voto, ou apelar à abstenção?
Como cidadão só posso apelar ao voto, mas com honestidade intelectual ainda não vejo porque é que devo votar, e em quem.
Uma coisa é certa, não vou na treta dos cartões. O que eu queria mesmo era que soasse o apito final e dar por findo este jogo. O jogo do “Monopólio”, da “Glória”. Gostaria de ver jogar a “Democracia” com as suas regras e não o jogo da “Democracia” com as regras da plutocracia e da parlatóriocracia.
Afinal o que é a “Democracia” - é o poder do povo?
É-o etimológicamente. E na realidade é-o? Claro que não, nem pode ser, pois o “povo” é uma entidade abstracta, logo sem realidade física.
Eis a grande realidade – O POVO NÃO EXISTE. (Está em função a “NAVALHA DE OCCAM”).
O mais preocupante é que os nossos “políticos” sabem isso. Aliás, o José Malhoa tentou dar-lhe aparência física, mas em barro, caso contrário os políticos saberiam exactamente o que seria o “Zé Povinho”.
Tenho, porém, uma mensagem para esse povo abstracto: Pela mesma ordem de ideias também não existe o “Político”, existem os homens “X” e “Y” que se dizem políticos e esses, caro POVO, têm realidade física e podem ser conhecidos, interrogados, responsabilizados e mesmo confrontados aquando tão garbosamente “gostam de andar no meio do povo”.
Ora quando nos dizem isto eles sabem que não andam no meio de ninguém, mas evitam dizer que eles também são povo, pois isso negava-lhes a existência.
POVO, quando te disserem que anda um político no meio de ti é mentira. Quem mente é o político, porque ele não só sabe que TU não existes, como sabe que mesmo que TU existisses ele não pertencia ao teu ser – Pois, ser político em Portugal é ser aquele que gosta de vir junto do povo, sentir o seu pulsar para poder decidir – é isto o político português - o Zaratustra.
Mas o POVO vota. Vota porque quer mostra-lhes que, não tendo existência física, tem existência espiritual e que uma coisa é certa - no espírito do Povo e só no espírito do POVO reside a verdadeira Democracia.
A democracia do povo é intransmissível por isso nunca entrega o seu poder aos políticos, apenas lhes dá legitimidade para agirem em seu nome. Quando agem contra a vontade do legitimo detentor do poder este pode e deve CORRER com aqueles que frustraram as suas expectativas. Quando? Quando o POVO se sente demasiado oprimido ou quando a LEI o permite. (Oprimido ainda não está, está só deprimido).
A LEI permite-o no acto eleitoral. Este serve, portanto para julgar aqueles que estão a usar o poder que lhes deixamos usar (seja onde seja, cá ou no PE, a soberania popular, una e indivisível, quando usada é o mesmo ser cá ou no PE, pois ela como una e indivisível não pode aqui ser uma coisa e lá outra).
É Portugal, é a Soberania Portuguesa, que vai ser representada no PE, não são os Partidos, isso é o que interessa que se pense. Tornar a nossa DEMOCRACIA numa PARTIDOCRACIA.
Na partidocracia há “Famílias”, vejam só, “famílias”. E o PE quer ser um conjunto de “Famílias”. Eu como eleitor quero que seja um conjunto de “nações” representadas por concidadãos, é para isso e por isso que voto.
Já me esquecia de dizer que também nos partidos, individualmente falando, há “famílias”. Cada partido vai gerindo a sua vida ora com uma ora com outra família.
Salve-se o mal entendido com a verdade “inquestionável” – OS PARTIDOS SÂO AS ORGANIZAÇÕES MAIS DEMOCRÁTICAS DO NOSSO REGIME POLITÍCO”. Quem dera.
Por isso e só por isso vou Votar, não sei em quem, mas sei que quero avisar que é também no voto e pelo voto que eu digo o que quero ou que não quero em regime democrático.
José Cordeiro
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