Enquanto o preço do petróleo e os preços dos carburantes sobem sem parar, o discurso de analistas e políticos mantem-se de uma pobreza confrangedora.
Para os políticos da oposição, aparentemente, a única coisa que está em causa é uma liberalização imperfeita dos preços dos carburantes. Concedendo que a liberalização foi imperfeita - uma vez que os contratos de fornecimento de carburantes aos revendedores, por parte das petrolíferas, obrigam geralmente os revendedores a praticar um preço estipulado pelas petrolíferas, pelo que, na prática, a concorrência se limita a 3 petrolíferas, e não a múltiplos revendedores, o que produz um mercado oligopolista e cartelizado - não deixa de ser verdade que, mesmo sem liberalização, os preços dos carburantes teriam que subir, devido ao aumento do preço do petróleo, a não ser que o Estado decidisse diminuir o imposto sobre os carburantes, como fez no tempo do Guterres, com consequências desastrosas para o orçamento, e socialmente injustas. Portanto, o mal não está essencialmente na liberalização, ao contrário daquilo que sugerem os políticos da oposição.
Os analistas económicos, por sua vez, só atiram as culpas para cima dos países produtores de petróleo, em particular da OPEP, os quais não estariam a produzir tanto petróleo quanto necessário, e estariam a apostar deliberadamente numa política de escassez e alto preço, política egoista e que prejudica fortemente a economia mundial, segundo esses analistas.
Isto é de uma pobreza confrangedora, porque os analistas tinham obrigação de saber, ou pelo menos de ter uma ideia, que a era das produções crescentes de petróleo acabou ou está a acabar. Desde 2000 que a produção mundial de petróleo está estagnada, isto é, oscila para cima e para baixo de ano para ano mas não aumenta sustentadamente, como até 2000 se verificava. Isto só pode acontecer porque, tal como há muito vinha sendo previsto para esta década (2000-2010), o máximo da produção mundial de petróleo foi atingido, e não é possível fazer subir mais a produção sem causar danos nos poços, que se pagariam mais tarde em termos de uma quebra brusca da produção (a chamada "lavra esforçada" de uma mina, que também pode ser praticada na extração de petróleo).
Aquilo que está em causa, provavelmente (ninguem sabe exatamente qual o estado de cada poço a não ser quem o gere, e naturalmente que as companhias petrolíferas, e os países, não andam a divulgar as limitações que vão descorindo nos seus poços), será pois uma incapacidade, e não uma falta de vontade, de aumentar a produção de petróleo.
Analistas e políticos, seja da oposição seja do governo, deveriam estar pois, em vez de andarem a atirar culpas de um lado para o outro, a pensar seriamente na necessidade urgente de passar a usar menos petróleo, de passar a considerar o petróleo como um bem escasso e caro. O que implica mudar a vida de todos nós. Com sacrifício, naturalmente, porque a mudança será inevitavelmente, pelo menos no curto prazo, para pior.
Mas será uma mudança inevitável. E não vale a pena adoptar a política guterrista, de esconder a cabeça na areia, como a avestruz, para não ter que ver o problema.
Luís Lavoura
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